segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Contos Árabes



Maneira de dizer as coisas

Uma sábia e conhecida anedota árabe diz que, certa feita, um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou, mandou chamar um adivinho para que interpretasse seu sonho.

 Que desgraça, senhor!  exclamou o adivinho. Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.

 Mas que insolente!  gritou o sultão, enfurecido. Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui!

Chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem acoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho.

Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:

 Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes.

A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:

 Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem acoites e a você com cem moedas de ouro.

 Lembra-te, meu amigo,  respondeu o adivinho  que tudo depende da maneira de dizer...

Um dos grandes desafios da humanidade é aprender a arte de comunicar-se. Da comunicação depende, muitas vezes, a felicidade ou a desgraça, a paz ou a guerra.

Que a verdade deve ser dita em qualquer situação, não resta dúvida. Mas a forma com que ela é comunicada é que tem provocado, em alguns casos, grandes problemas. A verdade pode ser comparada a uma pedra preciosa. Se a lançarmos no rosto de alguém pode ferir, provocando dor e revolta. Mas se a envolvemos em delicada embalagem e a oferecemos com ternura, certamente será aceita com facilidade.

A embalagem, nesse caso, é a indulgência, o carinho, a compreensão e, acima de tudo, a vontade sincera de ajudar a pessoa a quem nos dirigimos.

Ademais, será sábio de nossa parte se antes de dizer aos outros o que julgamos ser uma verdade, dizê-la a nós mesmos diante do espelho.

E, conforme seja a nossa reação, podemos seguir em frente ou deixar de lado o nosso intento.

Importante mesmo, é ter sempre em mente que o que fará diferença é a maneira de dizer as coisas...

A multa pela mentira

Certa vez, um califa ordenou que todo aquele que mentisse pagasse uma multa de cinco dinares. O seu porta-voz percorreu todo o reino, anunciando o decreto. Temendo que pudessem mentir, os súditos começaram a evitar conversar uns com os outros. Enquanto isso, o califa e seu vizir disfarçaram-se e foram passear nas redondezas do mercado para sentir o efeito do decreto.

Eles pararam em frente à loja de um rico comerciante – apesar de ninguém ser rico perante Alá. O comerciante convidou-os a entrar, serviu-lhes café e ficaram conversando enquanto o tempo passava agradavelmente.

– Quantos anos você tem? – perguntaram o califa e seu vizir.

– Vinte, respondeu o comerciante.

– Qual é o montante de seus bens?

– Setenta mil.

– Quantos filhos você tem?

– Um, pela graça de Alá.

Ao retornarem ao palácio, o califa e seu vizir verificaram os arquivos e mandaram chamar o comerciante.

– Quantos anos você disse que tinha?

– Vinte.

– Isso vai lhe custar cinco dinares. E qual o valor de seus bens?

– Setenta mil.

– Isso vai lhe custar outros cinco dinares. E quantos filhos você disse que tinha?

– Um pela graça de Alá.

– Pague outros cinco dinares.

– Mas, piedoso califa, prove suas acusações contra mim – replicou o comerciante.

– Você é um ancião de 65 anos, de acordo com os registros, e, no entanto, diz ter 20 anos de idade!

– Os anos que eu gozei a vida e achei a felicidade e a verdadeira fé de Alá foram apenas vinte. No restante não conheci nada e não valem nada.

– E sobre sua vasta fortuna que, de tão grande, é até incalculável... E você só admite ter 70 mil!

 Com estes 70 mil, eu construí uma mesquita. Essa é minha fortuna: o dinheiro que dediquei a Alá e ao seu fiel seguidor.

 Bem, você nega ter seis filhos?

 Não nego, mas cinco são ateus, bêbados e adúlteros. Só um filho é honesto e bom. Peço a Alá que olhe por ele com bondade.

 Você falou sabiamente. Falou a verdade – admitiu o califa. Não existem períodos de nossas vidas válidos de serem lembrados, exceto aqueles que foram passados com felicidade. Não existe riqueza válida de ser contabilizada, exceto aquela gasta com Alá e com a humanidade. E não existe filho que valha ser mencionado, exceto aquele que é bom e devoto de Alá.

Provérbios árabes

“Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira.”

“Não é o que possuímos, mas o que gozamos, que constitui nossa abundância.”

“Quem não compreende um olhar tampouco há de compreender uma longa explicação.”

“Os que falam mal dos outros em tua presença, na tua ausência falará mal de ti.”

“A primeira vez que me enganares, a culpa será tua; já da segunda vez, a culpa será minha.”

“Quem comprar o que não precisa, venderá o que precisa.”




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