domingo, 24 de agosto de 2014

A grande ursada

O amor é lindo!

Vamos recordar a história de uma bem-sucedida teimosia.


           Os namorados Nilce e Hamilton.     
               
 (Arquivo da família)

Hamilton e Nilce começaram a namorar em 1944. Ela se formava em Música, pela Escola de Belas Artes, e, no baile de formatura, eles dançaram uma vez, depois mais uma, depois uma terceira... Como todos os namorados da época, passeavam na Rua da Praia, tomavam sorvete. Em 1948, o namoro já ia longe e, depois de noivar, o casal cogitava seriamente casar-se.

Foi então que veio o conselho do amigo deles, o compositor Lupicínio Rodrigues, na forma da canção Esses Moços. Numa primeira e inesperada audição, durante a festa de aniversário de Hamilton, Lupi − em pé, no centro da roda de violão − convocou Nilce, deu o tom e disse: “Fiz uma musiquinha pro seu noivo”. Desconcertada e irritada, Nilce confessaria anos mais tarde ao repórter Eduardo Veras: “Fiquei furiosa, eu querendo casar, e o Lupicínio me vem com essa... Quando ele terminou, me aproximei dele e só consegui dizer: ‘Que ursada, hein?’”

Mas o jovem Hamilton, felizmente, era teimoso e não deu ouvidos ao poeta. Do contrário, eu e minhas duas irmãs, Maria Teresa e Maria Betânia, não estaríamos aqui para poder contar histórias como essa e testemunhar a favor dessa parceria que durou quase quatro décadas. Que Deus os tenha.

(Ricardo Chaves* – Almanaque Gaúcho – ZH)

*Fotógrafo e editor de Zero Hora, filho de Hamilton Chaves.


Esses Moços

Lupicínio Rodrigues

Esses moços, pobres moços,
Ah! Se soubessem o que eu sei.
Não amavam,
Não passavam
Aquilo que eu já passei.
Por meus olhos,
Por meus sonhos,
Por meu sangue, tudo enfim,
É que eu peço a esses moços,
Que acreditem em mim...

Se eles julgam
Que a um lindo futuro,
Só o amor nesta vida conduz,
Saibam que deixam o céu por ser escuro,
E vão ao inferno
À procura de luz.
Eu também tive nos meus belos dias,
Esta mania que muito me custou
Pois só as mágoas eu trago hoje em dia
E estas rugas o amor me deixou.

*O jornalista Hamilton Chaves foi uma das figuras mais querida da cidade. Assessor de Imprensa do governado Leonel Brizola e seu homem de confiança. Foi dele a frase: “Que as armas não falem”, durante o Movimento da Legalidade. Boêmio, ouvia músicas em bares da noite, mas nunca bebia, sempre era muito simpático e atencioso com todos.

Um dia, no Rio de Janeiro, ele foi assistir ao filme “A Estrela sobe”, sobre a vida de uma cantora decadentes que, no filme, cantava “Esses moços”. Hamilton não resistiu à emoção e chorou durante a sessão, pois sabia que aquela música foi feita para ele por seu grande amigo, Lupicínio Rodrigues.
  

Lupi e Hamilton Chaves defronte a antiga casa de Lupi na Ilhota.


Um comentário: