segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Humor gaúcho

Necessidades sexuais

Luis Fernando Veríssimo

Eu nunca havia entendido por que as necessidades sexuais dos homens e das mulheres são tão diferentes. Nunca tinha entendido isso de 'Marte e Vênus'.  E nunca tinha entendido por que os homens pensam com a cabeça e as mulheres com o coração.
Uma noite, na semana passada, minha mulher e eu estávamos indo para a cama. Bem, começamos a ficar a vontade, fazer carinhos, provocações, o maior tesão e, nesse momento, ela parou e me disse:
- Acho que agora não quero, só quero que você me abrace...
Eu falei:
- O quêêê?
Ela falou:
- Você não sabe se conectar com as minhas necessidades emocionais como mulher.
Comecei a pensar no que podia ter falhado. No final, assumi que aquela noite não ia rolar nada, virei e dormi. No dia seguinte, fomos ao shopping.
Entramos em uma grande loja de departamentos. Fui dar uma volta enquanto ela experimentava três modelitos caríssimos. Como estava difícil escolher entre um ou outro, falei para comprar os três. Então, ela me falou que precisava de uns sapatos que combinassem a R$ 200,00 cada par. Respondi que tudo bem.
Depois fomos à seção de joalheria, onde gostou de uns brincos de diamantes e eu concordei que comprasse. Estava tão emocionada! Deveria estar pensando que fiquei louco. Acho até que estava me testando quando pediu uma raquete de tênis, porque nem tênis ela joga. Acredito que acabei com seus esquemas e paradigmas quando falei que sim. Ela estava quase excitada sexualmente depois de tudo isso. Vocês tinham que ver a carinha dela, toda feliz!
Quando ela falou:
- Vamos passar no caixa para pagar, amor?
Daí eu disse:
- Acho que agora não quero mais comprar tudo isso, meu bem... Só quero que você me abrace.
Ela ficou pálida. No momento em que começou a ficar com cara de querer me matar, falei:
- Você não sabe se conectar com as minhas necessidades financeiras de homem...
Vinguei-me! Mas acredito que o sexo acabou pra mim até o Natal de 2015.

O humor do poeta Mário Quintana

Uma das facetas pouco públicas de Quintana era a de emérito galanteador. Fazia respeitosos galanteios a mulheres de amigos, com especial predileção, nesses casos, pelo trocadilho. A jornalista Alba Faedrich (aquela a quem costumava chamar de Albaurora), colega de redação, certa vez pediu-lhe que traduzisse alguns versos em francês e antecipou o agradecimento pela ajuda deixando um cravo vermelho sobre o teclado da máquina de escrever de Quintana.
Cheio de culpa por não ter feito a tradução, no dia seguinte ele deixou um bilhete sobre a máquina dela, em versos:

O cravo que tu me deste
Num momento de loucura
É para usar na lapela
Ou usar na ferradura?

Domingo, 20 de julho de 1969. Como todos os lugares do mundo em que existia um aparelho de televisão, a redação do Correio do Povo está parada, assistindo à chegada do homem na Lua. Enquanto Neil Armstrong saltita, deixando marcas na superfície lunar e cravando lá a bandeira norte-americana, Mário Quintana rabisca a sua marca para a data, antecipando outros futuros. Escreve e mostra, para delícia do pessoal:

Todo astronauta que se preze
Há de trazer pelo menos
Um dos anéis de Saturno
E uma camisa de Vênus.

Outra vez, um colega de trabalho fez um infeliz elogio:
- Mário, gostei muito daquele teu poeminha.
O poeta não perdeu o senso de humor e brincou:
- Obrigado pela tua opiniãozinha.

O gaúcho de Alegrete, em suas entrevistas, alternava momentos de humor, ternura e melancolia. Frases comoventes também se tornaram famosas, como, por exemplo, o motivo de não gostar de recordações. “Não gosto de recordar porque dá saudade de mim mesmo”.


Mário de Miranda Quintana:

Alegrete, 30 de julho de 1906 - Porto Alegre, 5 de maio de 1994) foi um poeta, tradutor e jornalista brasileiro.

   Frases de humor do poeta

“O fantasma é um exibicionista póstumo.” 

“Pertencer a uma escola poética é o mesmo que ser condenado à prisão perpétua.”

“Os verdadeiros crimes passionais são os sonetos de amor.”

“A coisa mais solitária que existe é um solo de flauta.”

“A verdadeira couve-flor é a hortênsia.”

“A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta.”

“A vista de um veleiro em alto-mar remoça a gente no mínimo uns cento e cinquenta anos.” 

“Atenção! O luar está filmando.”

“A alma é essa coisa que nos pergunta se a alma existe.” 

“Os clássicos escreviam tão bem porque não tinham os clássicos para atrapalhar.”

“Le penseur’ do Rodin... Coitado. Nunca se viu ninguém fazendo tanta força para pensar.”

“A natureza é barroca, o sonho é barroco... O que teriam vindo fazer neste mundo as colunas gregas?”

“O mais triste da arquitetura moderna é a resistência dos seus materiais.”

“O crítico é um camarada que contorna uma tapeçaria e vai olhá-la pelo lado avesso.”

“A expressão mais idiota que existe é ‘adeusinho’.”

“Não sou mais que um poeta lírico,/Nada sei do vasto mundo.../Viva o amor que eu te dedico, /Viva Dom Pedro Segundo!”

Mário Quintana por Santiago

As frases e os pensamentos acima não são nem do Millôr Fernandes nem do Ivan Lessa, são de outro humorista brasileiro que também já morreu: Mario Quintana.

Quem já gostava do Quintana poeta vai gostar de descobrir que ele era um dos melhores humoristas do seu tempo.
    

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