Sabedoria é não Entender
Não entendo. Isso é tão vasto que
ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode
não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não
entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de
espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como
ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só
que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais:
mas pelo menos entender que não entendo.
Clarice Lispector, in
“A Descoberta do Mundo”
A Sabedoria da Velhice
Aquele que envelhece e que segue
atentamente esse processo poderá observar como, apesar de as forças falharem e
as potencialidades deixarem de ser as que eram, a vida pode, até bastante
tarde, ano após ano e até ao fim, ainda ser capaz de aumentar e multiplicar a
interminável rede das suas relações e interdependências e como, desde que a
memória se mantenha desperta, nada daquilo que é transitório e já se passou se
perde.
Hermann Hesse, in “Elogio
da Velhice”
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