sábado, 30 de agosto de 2014

Hino à gaúcha



Paulo César Pereio (foto acima) nunca estudou música, nem tocou qualquer instrumento, mas é um dos autores do Hino da Legalidade. O ator era um jovem militante comunista nos idos de 1961. Durante as duas semanas de mobilização popular em defesa da posse de Jango, Pereio perdeu a conta do número de pessoas que ajudou a cadastrar nos Centros de Resistência e no Teatro de Equipe, que havia sido criado com objetivo de profissionalizar o teatro gaúcho, mas logo se transformou em centro de discussão dos intelectuais e artistas.


“Um dia, Hamilton Chaves (Esses moços, pobres moços), na foto acima, assessor de imprensa do Piratini, chegou no Equipe e disse: “Queremos um hino”, lembra Pereio. “Na hora não tinha nenhum músico por lá, peguei a Marselhesa, o hino da França, mudei um pouco o ritmo, e a Lara de Lemos, poetisa que mora hoje em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, pôs a letra”. Com seu vozeirão inconfundível, Pereio saiu direto do Equipe para um estúdio na Rua da Praia e gravou três acetatos com o hino. Depois da posse de Jango, a palavra legalidade foi trocada por lealdade, mas os três acetatos originais foram queimados, segundo Pereio. “Não havia mais interesse em lembrar a Legalidade, a Constituição já havia sido burlada.”

P.S. A campanha pela Legalidade foi o último grande acontecimento histórico revolucionário feito no Brasil, quando um governador civil (Leonel Brizola), o povo e o 3° Exército impedem um golpe militar.


Brizola no porão do Palácio Piratini

Hino da Legalidade


Avante brasileiros, de pé,
Unidos pela liberdade.
Marchemos todos juntos
Com a bandeira que prega a lealdade.

Protesta contra os tiranos,
Te recusa à traição
Que um povo só é bem grande
Se for livre sua Nação.


(Lara de Lemos – Paulo César Pereio)

Notas: 

A primeira versão sofreu duas mudanças: os gaúchos do original viraram brasileiros – afinal, era preciso empossar o presidente do país, não de um estado apenas. E a palavra legalidade foi trocada por lealdade.

O Hino da Legalidade foi gravado a toque de caixa em acetato confiscados nas Lojas Mesbla, com um coral improvisado pelo elenco do próprio Equipe.

A letra acima, que foi extraída de uma gravação, possui mais duas versões, com pequenas alterações, conforme o livro “1961 que as armas não falem”, de Paulo Markun e Duda Hamilton, e a publicação Veja Rio Grande do Sul, de agosto de 1991.

No site do PDT, colocam também o nome Demóstenes Gonsalez como mais um dos co-autores do Hino da legalidade.

No hino, o coral canta Se recusa à traição, mas no verso anterior canta Protesta contra o tirano (tu), portanto há um erro de concordância verbal.


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