Que vidinha
Mãe e filha em férias na praia. À
sombra de uma árvore, sentadas na grama, duas bolas de sorvete para cada uma.
− Que vidinha mais ou menos a nossa, hein, mãe!
A loira
− Casei com uma sueca. Bem que a
minha disse: Moça loira? De olho azul? Não é para você, meu filho. Seis meses
fomos felizes. Uma noite chego em
casa. E a minha loira: Até ontem, eu te amei. Hoje, não mais.
Adeus. Já de malinha no corredor. O que eu podia fazer?
− ...
− Só matar. E foi o que eu fiz.
A outra
A mulher separada:
− Eu fiquei sem nada. E ele, o bandido?
− ...
− Muito feliz com a outra, o fusca e o celular.
Uma cuequinha
A mãe de quatro meninas estende
no varal as muitas calcinhas coloridas. Ao lado, a caçula de oito anos:
− Quanta calcinha, né, mãe?
− A culpa é de você.
− De mim?
− Bem eu queria estar aqui pendurando uma cuequinha.
Encontro
− Você não sabe quem eu encontrei. Ele mesmo. O meu ex.
− E daí?
− Ih, ele está horrível. Gordo. Feio. Sem dentes.
− ...
− Eu, ainda bem, na minha calça preta corsário.
− ...
− Toda gostosa. De óculos escuro!
Os noivos
− Foi um triste casamento. Os
noivos decerto menores de 18 anos. Pareciam dois meninos perdidos. Dois lindos
meninos.
Para surpresa geral, a noiva
chega chorando. Entra na igreja chorando. E chora até o fim da cerimônia.
Quando os dois caminham para o
altar, à medida que passam, todos entendem o pranto da garota.
Ele tinha raspado a cabeça. E
atrás, na sobra da cabeleira, estão recortadas quatro letras: R-O-S-A.
− E daí? O nome da noiva. Um belo gesto de amor.
− Só que o nome da noiva era outro.
A mudinha
Na rua dois senhores pedem uma informação para a mocinha que
passa.
Ela se põe a gesticular muito agitada. Emite sons guturais,
gemidos, gritinhos.
Os dois agradecem e um para o outro:
− Puxa que mudinha mais tagarela!
(Histórias do livro
“Arara Bêbada”, Dalton Trevisan, Editora Record)
Criança
− Tua professora ligou. De
castigo, você. Beijando na boca os meninos. Que feio, meu filho. não é assim
que se faz.
− ...
− Menino beija menina.
− Você é gozada, cara.
− ...
− Pensa que elas deixam?
ooOoo
Ela sai do banheiro, a toalha na cintura.
− Pai, deixa eu ver o teu rabo.
É a tipinha deslumbrada no baile de debutantes de três anos.
− Rabo, filha? Ah, sei. O bumbum do pai?
− Seu bobo.
− ...
− Esse pendurado aí na frente.
ooOoo
O pai telefona para casa:
− Alô?
− ...
Reconhece o silêncio da tipinha. Você liga? Quem fala é você.
− Alô, fofinha.
Nem um som. Criança não é, para ser chamada fofinha. Cinco
anos, já viu.
− Oi, filha. Sabe que eu te amo?
“Puxa, ela nunca
disse que me amava”.
− Também o quê?
− Eu também amo eu.
ooOoo
(Histórias do livreto
“Crianças (seleções)”, editada pelo próprio autor.)
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