As Pombas
Vai-se
a primeira pomba despertada...
Vai-se
outra mais... mais outra... enfim dezenas
De
pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia
sanguínea e fresca a madrugada...
E
à tarde, quando a rígida nortada
Sopra,
aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando
as asas, sacudindo as penas,
Voltam
todas em bando e em revoada...
Também
dos corações onde abotoam,
Os
sonhos, um por um, céleres voam,
Como
voam as pombas dos pombais;
No
azul da adolescência as asas soltam,
Fogem...
Mas aos pombais as pombas voltam,
E
eles aos corações não voltam mais...
Raimundo Correia
Soneto Parnasiano
As
pombas lá se foram, espantadas
por
um tropel de vândalos do verso;
E
mesmo esse escarcéu quedou disperso
depois
de tantas décadas passadas.
Parnaso
pareceu conto de fadas...
O
tempo, inexorável e perverso,
expôs
toda a pieguice do universo
de
estrelas, vias lácteas e jornadas.
Sobrou
"Inania verba", um monumento
ao
mourejar hercúleo do poeta.
Por
tê-lo escrito, só, já me contento!
Mas
não é meu. Prossigo nesta meta
de,
aos poucos, completar meu próprio cento...
Versando
sobre o pé, poso de esteta.
Glauco Mattoso
Os Votos
Vai-se
a primeira votação passada...
Vai-se
outra mais... mais outra... enfim dezenas
De
votos vão-se da Assembleia, apenas
A
sessão começou da bordoada!
Sopra
sobre Ele a rígida nortada...
Que
saudades das épocas serenas
Tinham
apurações de cambulhada!
O
seu bom-senso todos apregoam...
Afastando-se
d'Ele, os votos voam,
Como
voam as pombas dos pombais...
As
esperanças o seu voo soltam...
E
Ele vê que aos pombais as pombas voltam,
Mas
esses votos não lhe voltam mais!
Ângelo Bitu
A Revoada
O
primeiro ministro lá vai indo;
Outro
o segue, outro mais, enfim o bando
Inteiro
solta as asas azulando,
Antes
que a demissão os vá impelindo.
Também
as pombas do soneto lindo,
Na
rósea madrugada, vão deixando
O
ninho amigo, ao qual irão voltando,
Ansiosas,
quando a tarde for caindo.
Mas
aqui não há pombas nem pombais:
Há
ministros que partem em surdina,
Certos
de não voltarem nunca mais.
Deixam
o ministério sem alarde;
E
o povo que lhes deve a triste sina,
Olhando
o voo, suspira: − Já vão tarde!
Lisindo Coppoli
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