Mal Secreto
Se a cólera que espuma, a dor que
mora
N’alma, e destrói cada ilusão que
nasce,
Tudo o que punge, tudo o que
devora
O coração, no rosto se estampasse;
Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja
agora
Nos causa, então piedade nos
causasse!
Quanta gente que ri, talvez,
consigo
Guarda um atroz, recôndito
inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez
existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
Raimundo Correia
Mal Discreto
Se a prontidão, a pinda, a
quebradeira
E os vários males desta mesma
classe,
Tudo o que punge a tísica
algibeira,
Sobre o rosto do
"pronto" se estampasse;
Se se pudesse a crise financeira
Ler "através da máscara da
face",
Quanta gente, talvez, que da
primeira
Fila, então, para a última
passasse...
Quanta gente nós vemos, quanta
gente,
Cuja gravata, cautelosamente,
Uma camisa enxovalhada esconde!...
Quanto moço elegante e perfumado
Que anda, imponente, de
automóvel... fiado,
Porque lhe faltam níqueis para o
bonde!
Bastos Tigre
Mal Sicreto
S'a cólera que põe danada a gente,
Distrói a paz da bida disijada,
Tudo o que nos vilisca
intiriormente
Suvisse à nossa cara,
qu'istupada!...
Si si pudesse, a ialma padicente,
Bêre pur trás de muita
guergalhada,
Canta gente a se rire vestamente,
Que era muito milhóre estar
calada!
Canta gente só ri pra disfarçare
Um turco à porta que lhe bem
cuvrare
A quemisa, a ciloira, a maia, u
cinto...
Cantos há nesse mundo a três por
dois,
Que tendo à janta só cumido
arroz,
Arrotam p'ru, laitão e binho
tinto!
Furnandes
Albaralhão
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