“Há quem diga que
todas as noites são de sonhos.
Mas há também quem diga nem todas, só as de verão. Mas no fundo isso não tem muita importância. O que interessa mesmo não são as noites em si, são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre. Em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado.”
Shakespeare
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Gramática do amor
Conjuga-me num beijo
interjeita-me nos teus braços
Adjetiva o meu desejo
Personifica os nossos laços.
Imperativa o teu sentimento
Metaforiza-o com a natureza
Exclama-o num momento
Eterno com certeza.
Acentua-o com um sorriso
Transcreve-o num poema
Compõe-no e num feitiço
descobrirás que amor é o tema.
Coordena agora tudo,
Para sempre vais lembrar
Que o poeta não fica mudo
e com esta gramática se vai
expressar.
(Ricardo Pires
Fernandes)
A gramática é dramática
A gramática é dramática:
É difícil pô-la correta, direta, tê-la por dileta.
É difícil pô-la correta, direta, tê-la por dileta.
É na prática, uma questão
matemática com muito senso e estética.
O que é isso? Talvez seja...
não sei mas posso inventar,
alvitrar, opinar e, quase de certeza, errar.
A gramática é dramática:
Põe centímetros na métrica,
A gramática é dramática:
Põe centímetros na métrica,
ajuda a vender a retórica e
mostra que a língua é metódica.
É sem dúvida um espelho de
azelhice,
mostra de alarvice e, ainda,
ornamento da aldrabice.
De certeza que é, de certeza que
é!
A gramática é dramática:
É tão fácil dar-lhe um pontapé e logo a seguir apanhar-nos em contra-pé.
A gramática é dramática:
É tão fácil dar-lhe um pontapé e logo a seguir apanhar-nos em contra-pé.
Enganadora, mostra-se servidora,
disponível, acessível e depois...
depois é dominadora, castradora.
Eu sei que é. Ai sei sim senhor!
A gramática é dramática:
A sacana abana, verga mais que uma verdasca
A sacana abana, verga mais que uma verdasca
e marca de cortes a pele que
descasca.
Fetichista, fascista, dona,
senhora, credora da penhora sobre o saber,
dizer e escrever.
É lei forte que não dá a língua à
morte
A gramática é dramática:
É-o tanto como um castigo parental, aplicado com critério, a princípio,
A gramática é dramática:
É-o tanto como um castigo parental, aplicado com critério, a princípio,
mistério e, depois, razoável e
sério.
Régua e esquadro, desenho
técnico, essência e esqueleto.
Mesmo sem o saber, sei que é e
isso não erro.
Valdevinoxis
Gramática caipira
É verdade matemática
Que ninguém pode negar,
Que essa história de gramática
Só serve para atrapalhar.
Ainda vem língua estrangeira
Ajudar a complicar.
É melhor arranjar maneira
Disso tudo se arrumar.
Na Inglaterra ouvi dizer
Que lá um sapato é xu.
Desde logo se está e ver
que dois sapato é xu-xu.
Xu-xu para nós é um legume
Que cresce solto no mato.
O inglês que lá se arrume,
Mas não comemos sapato.
Na Itália dizem até,
Eu não sei por que razão,
Que como manteiga é burro,
Se mete burro no pão.
Desse jeito para mim chega,
Salve… ó povo do sertão,
Onde manteiga é manteiga,
Burro é burro! E pão é pão.
Na América corpo é bode.
Veja que bode vai dar.
Conheci uma americana
Doida para o bode emprestar.
Fiquei meio atrapalhado
E disse para me escapar:
Oi, moça, eu não sou cabra,
Chega seu bode para lá!
Na Alemanha tudo é bundes.
Bundes-liga, bundes-bão.
Muita bunda só confundes,
Desnorteia o coração.
O Alemão quer inventar
O que Deus criou primeiro
Para que lhes havia de dar…
Mudar o nome do traseiro...
(Adaptação)
Estrutura de um Soneto
Estrutura Básica
O soneto é, geralmente, composto por dois quartetos e dois
tercetos.
Métrica
O soneto deve possuir em cada verso o mesmo número de
sílabas poéticas.
Rima
Outra característica importante
de um soneto é a ordem em que os versos rimam, ou posicionamento de rimas. Para
os quartetos, existem três formas principais de posicionamento:
Rimas entrelaçadas ou opostas – abba (o primeiro verso rima com o quarto, o
segundo rima com o terceiro):
“Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a ingratidão – esta pantera -
Foi tua companheira inseparável…”
(Augusto dos Anjos)
Rimas
alternadas – abab (o primeiro verso rima com o terceiro, o segundo rima com o
quarto):
“Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha.
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha…”
(Olavo Bilac)
Rimas emparelhadas – aabb (o
primeiro verso rima com o segundo, o terceiro rima com o quarto):
“No rio caudaloso que a solidão
retalha,
na funda correnteza na límpida toalha,
deslizam mansamente as garças alvejantes;
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes…”
na funda correnteza na límpida toalha,
deslizam mansamente as garças alvejantes;
nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes…”
(Fagundes Varela)
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