Fabrício Carpinejar
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Arte ZH: Everson
Godinho
É comum falar de pais tóxicos, mas pouco questionamos o
papel dos filhos tóxicos.
Os filhos egoístas que diminuem
os seus genitores dizendo que estão caducos e que repetem as mesmas histórias
(quando todos repetem as mesmas histórias, não importando a idade).
Os filhos que são megalomaníacos
e cobram insaciavelmente os seus direitos e não enxergam a contrapartida de
seus deveres.
Os filhos que não dividem os seus méritos, porém culpam a
família pelos seus fracassos.
Os filhos que humilham madrastas
e padrastos, por pura inveja da felicidade, para manter o seu reinado.
Os filhos que gastam tudo o que
podem com os seus romances e não são capazes de pagar o plano de saúde de seus
antigos responsáveis.
Os filhos que gritam com os pais
em público, rindo da lentidão do apego, desdenhando as suas lembranças e os
seus feitos.
Os filhos que não respeitam de
onde vieram e quem são, quebrando espelhos e negando a simplicidade de sua
origem.
Os filhos incompetentes para ouvir
e valorizar a sabedoria da experiência, que entendem qualquer conselho com a
indisposição de uma censura prévia.
Os filhos que foram amados e,
mesmo assim, abandonam os pais velhos em asilos, sem nenhuma visita ou ligação
afetiva.
Os filhos que consideram a
velhice como um problema contagioso, uma quarentena vitalícia, da qual se deve
manter distância.
Os filhos que acham que
aposentadoria é não fazer nada, que acumulam chamadas não atendidas no celular,
que prometem ligar de volta e jamais retornam.
Os filhos programados para dizer
que o pai ou a mãe não tem mais condições de gerir a própria rotina, apressados
de diagnósticos e laudos, com a evidente intenção de se beneficiar e acelerar a
partilha do testamento.
Os filhos que não permitem que os
pais tenham manias, excentricidades e desejos loucos, como qualquer um,
rotulando naturais excessos em insanidade.
Os filhos que apenas ficam com os
pais em suas casas, desprovidos de cuidado especial, interessados em embolsar a
aposentadoria, de tal maneira que anulam a independência e autonomia dos idosos
de sair para a rua e passam a retirar o dinheiro de uma vida inteira, o justo
salário deles, no guichê da Caixa Econômica Federal, apropriando-se de cartão e
senha, utilizando o benefício como parte de seus salários.
Esses filhos não merecem um puxão
de orelhas da sociedade? Porque eu não vejo ninguém comentando os abusos deles.
(Publicado em Zero Hora , novembro de
2019)
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