Quando Dick Farney e Lúcio Alves
gravaram “Teresa da Praia”, de Billy Blanco e Tom Jobim, em 1954, a letra encantava de
saída: [Lúcio] “Ô Dick, arranjei novo amor no Leblon/ Que corpo bonito, que
pele morena/ Que amor de pequena, amar é tão bom...” / [Dick] “Ô Lucio, ela tem
o nariz levantado?/ Os olhos verdinhos, bastante puxados? Cabelo castanho e uma
pinta do lado?”.
Segue o samba e os rapazes descobrem que a moça que conheceram no Leblon e pela qual se apaixonaram (“É a minha Teresa da praia!”) deu, digamos, amor a ambos, um de cada vez. [Dick] “O verão passou todo comigo!” / [Lucio] “É, mas no inverno se esquentou com quem?” E resolvem “a Teresa na praia deixar/ aos beijos do sol/ e abraços do mar”, porque “Teresa é da praia, não é de ninguém”.
Teresa podia ser da praia, sem problema − menos da praia do Leblon. Em 1954, o Leblon era um bairro solidamente residencial, mas, quem não fosse seu morador, não tinha por que visitá-lo, exceto para fins imorais. No fim da praia, ficava o Hotel Leblon, o primeiro “motel” do Brasil, e, à noite, a areia deserta e sem luz era um convite a nheco-nhecos à milanesa, principalmente entre jovens. Donde “ser visto” no Leblon costumava implicar alguma bandalheira.
Billy Blanco morreu na sexta-feira (8 de julho de 2011). “Teresa da Praia” foi o começo de sua breve, mas fecunda parceria com Jobim, que renderia ainda a bela “Esperança Perdida” (‘Eu pra você fui mais um...”) e os dez sambas da “Sinfonia do Rio de Janeiro’. E, já sem Tom, a paródia que Billy viu-se obrigado a fazer de ‘Teresa da Praia”, ao constatar que a garota havia mudado:
“Ela usa o nariz só de um lado/ Tem o olho vermelho/ Bastante injetado/ Cabelo na venta/ E sapato 40/ Essa é a tua Teresa da praia/ No Leblon, não engana ninguém/ O meu caso é um rabo de saia/ Vai com calma, que é o dela também”.
(Do livro “A arte de
querer bem – crônicas”, de Ruy Castro)
Dick Farney e Lúcio
Alves:
Teresa da Praia
(Billy Blanco / Tom
Jobim),
Continental 16 994
(1954)
− Lúcio, arranjei novo amor no
Leblon,
que corpo bonito,
que pele morena,
que amor de pequena,
amar é tão bom!
− Ô Dick, ela tem um nariz
levantado?
Os olhos verdinhos,
bastante puxados?
Cabelo castanho...
Dick:
− E uma pinta do lado?
Lúcio:
− É a minha Tereza da praia!
Dick:
− Se ela é tua, é minha também.
Dick:
− O verão passou todo comigo!
Lúcio:
− O inverno pergunta com quem?
Dick e Lúcio:
− Então vamos
a Tereza na praia deixar,
aos beijos do sol
e abraços do mar.
Tereza é da praia,
Dick:
− não é de ninguém.
Lúcio
− Não pode ser tua,
Dick:
− nem tua também.
P.S. Ouça, na internet, a gravação original dessa música nas vozes de Dick Farney e Lúcio Alves. Ou com Caetano Veloso e Roberto Carlos.
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