“Entrei de frente na história e, acredite quem quiser,
em vinte e três fui soldado sem deixar de ser mulher.”
Nasceu em 18 de junho de 1902 na
localidade de camaquã em Caçapava do Sul - RS, filha de Francisco José de
Oliveira e Auta Coelho Leal de Oliveira. Aos 21 anos de idade foi recrutada
para integrar as fileiras da Brigada Militar, como enfermeira e combatente no
1º Regimento de Cavalaria, hoje 1º Regimento da Polícia Montada, com sede em Santa Maria. Logo recebeu a patente de
Cabo, era conhecida por Cabo Toco por ser baixinha.
Participou da Revolução de 1923, onde a Brigada defendia a legitimidade da reeleição de Borges de Medeiros contra os Maragatos.
Cabo Toco era uma apaixonada por queimar cartuchos, não se limitando apenas às atividades de apoio. Empunhando seu fuzil, lutava lado a lado com a mesma valentia dos demais soldados.
Depois de passar por várias batalhas com destaque de bravura, deixou a corporação em 1932.
Casou com Antonio Martins da Silva, em 1951. Ficou viúva em 1954, e passou a viver de pequena pensão deixada pelo marido.
Mulher forte, guerreira, símbolo vivo da história do Rio Grande do Sul, sem descendentes, vivia em uma casa paupérrima na periferia de Cachoeira do Sul. Andava pelas ruas com sua velha carroça, cansada e sem rumo, carregando consigo a história que o povo não conhecia.
Mesmo sendo considerada uma heroína, Cabo Toco só ficou conhecida depois que, em 1987, Nilo Bairros de Brum e Heleno Gimenez venceram a 5ª Vigília do Canto Gaúcho de Cachoeira do Sul com uma canção contando a sua história, na voz de Fátima Gimenez. Cabo Toco esteve presente na entrega da premiação da música, e viveu momentos de pura emoção ao ver sua vida contada em uma linda canção, apresentada para um grande público, que, na sua maioria, nem sequer sabia da sua existência.
Cabo Toco, quando faleceu, recebia pensão vitalícia especial, correspondente ao cargo de 2º Sargento da Brigada Militar concedida havia poucos anos, por parte do Governo do Estado.
Olmira Leal de Oliveira faleceu em 21 de outubro de 1989, em Cachoeira do Sul, e está sepultada no Cemitério Municipal de Caçapava do Sul.
Cabo Toco
Nilo Bairros de Brum
e Heleno Gimenez
Foi no lombo de um cavalo que descobri horizontes.
Em vez de vestir bonecas, andei gritando repontes.
Entrei de frente na história e, acredite quem quiser,
Em vinte e três fui soldado, sem deixar de ser mulher!
Em vinte e três fui soldado, sem deixar de ser mulher!
Me chamam de Cabo Toco,
Sou guerreira, sou valente,
Do Primeiro Regimento,
Enfermeira e combatente.
Me chamam de Cabo Toco,
Só não sabe quem não quer.
Debaixo do talabarte,
Há um coração de mulher.
Lutei contra Honório Lemes na serra do Caverá.
Na ponte do Alegrete, meu fuzil estava lá.
Enfrentei o Zeca Neto, sem temor da “colorada”.*
Anita sem Garibaldi, já nasci emancipada.
Anita sem Garibaldi, já nasci emancipada.
Me chamam de Cabo Toco,
Sou guerreira, sou valente.
Do Primeiro Regimento,
Enfermeira e combatente.
Me chamam de Cabo Toco.
Só não sabe quem não quer,
Debaixo do talabarte,
Há um coração de mulher.
A velhice me encontrou com a miséria na soleira,
A ver a vida por frestas num subúrbio de cachoeira.
Digo aos curiosos que trazem ajudas interessadas,
Que não quero caridade, quero justiça e mais nada.
Que não quero caridade, quero justiça e mais nada.
P.S. A gravação dessa música esta na internet na voz de
Fátima Gimenez.
* “colorada”, é relativo à
gravata colorada, degola dos presos das revoluções no Rio Grande do Sul.
Aplicando a gravata colorada
“Os presos eram despidos, e na saída da mangueira Adão
Latorre bradava:
− Fala pão!
− Pão.
Brasileiro, soltava. Vinha outro soldado.
− Fala pão!
− Pan.
− Fala pão!
− Pão.
Brasileiro, soltava. Vinha outro soldado.
− Fala pão!
− Pan.
Castelhano, degolava.
E Adão Latorre aplicava a gravata
colorada no infeliz; que podia ser à brasileira, com dois cortes seccionando as
carótidas; ou à criolla, o corte de orelha a orelha.”
Este impressionante relato faz
parte do livro “Entrevista com o Caudilho”, de Cassiano Fuga Cunha, lançado
pela Editora Martins Livreiro (116 páginas, R$ 35,00), em que são apresentados
detalhes e passagens, inclusive no município de Cachoeira do Sul, da Revolução
Federalista do Rio Grande do Sul, chamada a Revolução da Degola, entre 1893 a 1895, quando foram
assassinadas de 12 a
15 mil pessoas. O número representa 1,3 por cento da população da época.
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