Visual na História de
Lampião e sua Companheira Maria Bonita.
Por Bia Lemos
Imagens do livro “Estrelas
de couro – A estética do cangaço”
Certa vez em uma entrevista, a
empresária e consultora de moda Costanza Pascolato disse que a imagem
construída com inteligência e charme ajuda na comunicação com o outro.
Incorpora confiança e não é uma questão de simples vaidade, mas de
sobrevivência. Pode-se utilizar a afirmação de Costanza para explicar a força
da identidade visual na história de Lampião e sua companheira Maria Bonita.
Ambos se tornaram mitos em todo o
nordeste brasileiro ao misturar riqueza, extravagância e barbárie, lançando no
país o banditismo de ostentação, em que o enfeite e o ornamento dão destaque
particular aos crimes.
Para Lampião vestir-se bem era
essencial para triunfar. Ele foi o primeiro cangaceiro a cuidar da sua imagem,
aí reside sua originalidade, estava sempre vestido de maneira extravagante, com
roupas de cores berrantes, chapéus imensos, enfeitados com medalhas e muitos
anéis, colares e broches. Lampião e seus cangaceiros lançaram sua própria moda,
criando um dos visuais brasileiros de maior expressão e autenticidade. A partir
do estilo adotado eram reconhecíveis
entre todos.
Lampião sempre demonstrou
preocupação com a aparência − bem antes de sua entrada no cangaço, ele
costurava suas roupas e sabia bordar a maquina com perfeição – e soube elaborar
um personagem singular para ele, utilizando efeitos visuais para valorizar a
vida que levava com seu grupo e transmitir a imagem de bandido rico e poderoso
que exercia fascínio e respeito sobre o povo do sertão.
Dadá, mulher de Corisco,
companheiro de Lampião, teve papel importante na história do cangaço, não só
por participar ativamente das lutas, mas, sobretudo por ter sido a estilista
dos cangaceiros. Ela mudou radicalmente os motivos e a confecção das roupas e
acessórios usados pelo bando. A partir de 1932, lançou a moda dos motivos
bordados em couro branco sobre os chapéus − foi a criadora da famosa estrela de
oito pontas −, das flores em tecido colorido bordadas sobre as bolsas, dos
peitorais e dos cinturões largos e de couro. Fotos abaixo:
A nova indumentária criada por
Dadá era também utilizada para diferenciar status e poder. Os motivos e as
estrelas dos chapéus variavam de um cangaceiro para outro e permitiam
reconhecer a sua importância dentro do grupo.
Geralmente, o lenço dos
cangaceiros era feito em seda inglesa ou em tafetá francês e traziam sempre
monogramas. O lenço de Lampião era em seda vermelha, bordada nos quatro cantos,
fixado por diversos anéis – geralmente de ouro – em volta do pescoço. As bolsas
bandoleiras eram feitas em tecidos resistentes e tinham vários bolsos fechados
por diversos botões, com a parte externa ricamente bordada com motivos florais.
Enquanto os cangaceiros
usualmente vestiam uma camisa cáqui ou azul, Lampião, como chefe, às vezes se
diferenciava, usando camisas listradas ou estampadas, com botões de ouro. As
calças de cintura alta eram geralmente curtas, obrigando os cangaceiros a usar
tornozeleiras em couro e ornamentadas com botões e bordados para proteger da
vegetação espinhenta. Por causa também da vegetação, os cangaceiros usavam
luvas; as de Lampião eram bordadas.
Mesmo os objetos mais simples
eram enfeitados, por exemplo, o cantil de alumínio de Lampião era recoberto por
tecido bordado. As bainhas dos punhais, as cartucheiras, as alças dos fuzis
completavam a riqueza dos trajes. Até os cães dos cangaceiros não escapavam a
essa moda de ostentação: Dourado, o cão de Lampião, usava uma coleira feita de
ouro e prata.
As companheiras dos cangaceiros
adaptaram-se a esse novo estilo de vestimenta. Havia dois tipos de indumentária
feminina: A roupa típica das mulheres dos cangaceiros, usada durante as longas
caminhadas na caatinga; e um vestido à moda da cidade, que as mulheres usavam
geralmente nos refúgios, quando sabiam que estavam protegidas das forças
policiais e podiam desfrutar de algum descanso.
Em 2002, o universo do cangaço
inspirou Tufi Duek e as roupas e acessórios da “Forum” foram enfeitados por
pespontos ou tachas que recriavam os desenhos dos artesãos da caatinga. Amir
Slama, da Rosa Chá, e Ronaldo Fraga também já se deixaram seduzir pelo estilo
do cangaço.
(Do blog Nordestinos
Paulistanos)
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