terça-feira, 12 de novembro de 2019

O estilo do cangaço virou moda:

Visual na História de Lampião e sua Companheira Maria Bonita.

Por Bia Lemos


Imagens do livro “Estrelas de couro – A estética do cangaço”

Certa vez em uma entrevista, a empresária e consultora de moda Costanza Pascolato disse que a imagem construída com inteligência e charme ajuda na comunicação com o outro. Incorpora confiança e não é uma questão de simples vaidade, mas de sobrevivência. Pode-se utilizar a afirmação de Costanza para explicar a força da identidade visual na história de Lampião e sua companheira Maria Bonita.

Ambos se tornaram mitos em todo o nordeste brasileiro ao misturar riqueza, extravagância e barbárie, lançando no país o banditismo de ostentação, em que o enfeite e o ornamento dão destaque particular aos crimes.

Para Lampião vestir-se bem era essencial para triunfar. Ele foi o primeiro cangaceiro a cuidar da sua imagem, aí reside sua originalidade, estava sempre vestido de maneira extravagante, com roupas de cores berrantes, chapéus imensos, enfeitados com medalhas e muitos anéis, colares e broches. Lampião e seus cangaceiros lançaram sua própria moda, criando um dos visuais brasileiros de maior expressão e autenticidade. A partir do estilo adotado eram reconhecíveis
entre todos.

Lampião sempre demonstrou preocupação com a aparência − bem antes de sua entrada no cangaço, ele costurava suas roupas e sabia bordar a maquina com perfeição – e soube elaborar um personagem singular para ele, utilizando efeitos visuais para valorizar a vida que levava com seu grupo e transmitir a imagem de bandido rico e poderoso que exercia fascínio e respeito sobre o povo do sertão.

Dadá, mulher de Corisco, companheiro de Lampião, teve papel importante na história do cangaço, não só por participar ativamente das lutas, mas, sobretudo por ter sido a estilista dos cangaceiros. Ela mudou radicalmente os motivos e a confecção das roupas e acessórios usados pelo bando. A partir de 1932, lançou a moda dos motivos bordados em couro branco sobre os chapéus − foi a criadora da famosa estrela de oito pontas −, das flores em tecido colorido bordadas sobre as bolsas, dos peitorais e dos cinturões largos e de couro. Fotos abaixo:


A nova indumentária criada por Dadá era também utilizada para diferenciar status e poder. Os motivos e as estrelas dos chapéus variavam de um cangaceiro para outro e permitiam reconhecer a sua importância dentro do grupo.


Geralmente, o lenço dos cangaceiros era feito em seda inglesa ou em tafetá francês e traziam sempre monogramas. O lenço de Lampião era em seda vermelha, bordada nos quatro cantos, fixado por diversos anéis – geralmente de ouro – em volta do pescoço. As bolsas bandoleiras eram feitas em tecidos resistentes e tinham vários bolsos fechados por diversos botões, com a parte externa ricamente bordada com motivos florais.


Enquanto os cangaceiros usualmente vestiam uma camisa cáqui ou azul, Lampião, como chefe, às vezes se diferenciava, usando camisas listradas ou estampadas, com botões de ouro. As calças de cintura alta eram geralmente curtas, obrigando os cangaceiros a usar tornozeleiras em couro e ornamentadas com botões e bordados para proteger da vegetação espinhenta. Por causa também da vegetação, os cangaceiros usavam luvas; as de Lampião eram bordadas.

Mesmo os objetos mais simples eram enfeitados, por exemplo, o cantil de alumínio de Lampião era recoberto por tecido bordado. As bainhas dos punhais, as cartucheiras, as alças dos fuzis completavam a riqueza dos trajes. Até os cães dos cangaceiros não escapavam a essa moda de ostentação: Dourado, o cão de Lampião, usava uma coleira feita de ouro e prata.


As companheiras dos cangaceiros adaptaram-se a esse novo estilo de vestimenta. Havia dois tipos de indumentária feminina: A roupa típica das mulheres dos cangaceiros, usada durante as longas caminhadas na caatinga; e um vestido à moda da cidade, que as mulheres usavam geralmente nos refúgios, quando sabiam que estavam protegidas das forças policiais e podiam desfrutar de algum descanso.


A estética da extravagância de Lampião e seus cangaceiros já influenciou muitos estilistas. Zuzu Angel apresentou em seu primeiro desfile em Nova York, em 1970, uma coleção inspirada em Maria Bonita.


Em 2002, o universo do cangaço inspirou Tufi Duek e as roupas e acessórios da “Forum” foram enfeitados por pespontos ou tachas que recriavam os desenhos dos artesãos da caatinga. Amir Slama, da Rosa Chá, e Ronaldo Fraga também já se deixaram seduzir pelo estilo do cangaço.

(Do blog Nordestinos Paulistanos)

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