Uma vez, disse o Sábado
ao Domingo:
“Nós somos sete irmãos, e eu não distingo
Nenhum deles, bem vês! Somos todos iguais
Porém você dos seis é o mais malandro
O mais fino e sagaz!
Trabalhamos seis dias,
sem repouso
Para você, no auge do seu gozo
Andar todo cheiroso
A gozar, a gozar
Nos bailes namorando
Pelas ruas flanando
Ou, se lhe apraz, em casa descansando
A dormir, a roncar!”
Depois, pousando a mão nos
ombros do domingo
Exclamou: Eu me vingo!
Isto tem de acabar!
Mas Domingo lhe disse:
‒ Meu irmão,
Pensa e verás que tu não tens razão
Enquanto vocês todos, nos seis dias
Trabalham para mim, não é em vão!
Eu estou igualmente trabalhando
E organizando
Divertimentos, bailes e folias
Circos, teatros, futebol e folias
Cinemas e outras coisas divertidas
Para dar a vocês, na luta insana
Pelo menos um dia na semana
Para vocês descansarem
Nas igrejas, rezarem
Ou pelas grandes farras passearem.
* * *
E o sábado, a pensar,
vendo o senhor domingo
retirar-se, de vez, meio ofendido
Pela sua severa observação,
– ergueu a fronte e disse, convencido:
“Domingo, caro irmão!
Desde que és entre nós o irmão mais divertido,
E de mais distinção,
Eu vou dizer, de fronte sobranceira
Às nossas cinco irmãs:
Dona Segunda
Dona Terça
Dona Quarta
Dona Quinta
E a Excelentíssima senhora dona Sexta-Feira,
Que tens toda a razão”.
Catulo da Paixão Cearense – Fábulas e
alegorias
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