Certa noite um chamado telefônico de urgência tirou da cama um fatigado médico, e lá se foi ele, afrontando o frio e a neve, visitar o doente que diziam estar passando muito mal. Chegando lá, verificou que se tratava apenas de uma indigestão causada por excesso de comida e bebida.
Sem dar qualquer demonstração quanto ao diagnóstico que fizera, o médico perguntou ao doente:
− O senhor tem seu testamento feito?
− Não... − respondeu o doente, já começando a tremer, o comilão.
− Então mande chamar imediatamente o seu tabelião.
− Mas...
− Tem filhos? − prosseguiu o médico, ignorando a interrupção.
−Sim, mas vivem em outra cidade, um pouco longe daqui.
− Telefone imediatamente para que venham para cá.
A essa altura o doente já tremia como varas verdes. Chamou um empregado e deu ordens para que se fizessem vir o tabelião e os filhos do enfermo.
Assim que o serviçal veio dizer que as ordens estavam cumpridas, o médico fez menção de retirar-se.
− Mas, doutor, vai deixar-me? Não há mesmo qualquer esperança de me livrar da morte?
− Se há, infelizmente! O senhor não tem nada a não ser muita comida e muita bebida nesse corpo!
− Então, por que mandou que chamassem meu tabelião e meus filhos vir até aqui?
− Para que eu não fosse o único idiota a sair de uma cama quente com uma noite gelada destas por causa da sua estúpida indigestão!
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