sexta-feira, 17 de março de 2023

Declaração dos Direitos Desumanos

 Fraga

Esta versão atualizada da Declaração Universal dos Direitos do Homem é a propósito de um original muito conhecido da boca pra fora e que andou circulando por aí nas mãos de um sorridente presidente americano, que o exibiu como modelo de teoria e até como cunha em negociações internacionais. Omiti alguns artigos apenas por falta de espaço e não, como fazem certos países, por falta de interesse. 

Todos os homens nascem livres e iguais em dignidade e direito. Mas não podem morrer assim. 

Todo homem tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidas na Declaração original, desde que esteja disposto a correr o risco. 

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão. A não ser por vínculo empregatício. 

Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel que não possa aguentar. 

Todos são iguais perante a Lei. Isto é, todos tremem. 

Todo homem tem direito à vida, à liberdade e à segurança. Sem exageros. 

Todo homem tem direito a receber remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais: mercurocromo, gaze, esparadrapo... 

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado, salvo honrosas exceções. 

Todo homem tem direito a um julgamento justo e imparcial de vez em quando. 

Todo homem é inocente até prova em contrário, forjada ou não. 

Todo homem tem direito à vida privada e à proteção. Nem que para isso tenha que ir parar numa cela. 

Todo homem, quando perseguido, tem direito a procurar asilo em outros países que perseguem menos. 

Todo homem tem direito a uma nacionalidade, embora isso não lhe traga direito algum. 

Todo homem tem direito à propriedade ou, pelo menos, ao aluguel dela. 

Todo homem tem direito à liberdade de pensamento. Mas que isso não lhe suba à cabeça. 

Todo homem tem direito à liberdade de expressão. Corporal, bem entendido. 

Todo homem tem direito ao trabalho, mesmo que não queira. 

Todo homem tem direito à instrução. Inclusive quem ensina. 

Todo homem tem direito de participar do governo do seu país. De preferência votando ou sendo votado. 

(Publicado originalmente em 1979, em parceria com o querido e saudoso amigo Carlos Carvalho, escritor e dramaturgo.) 

(Do livro “Punidos Venceremos”, 1984, do Fraga*) 

*Fraga. Jornalista e humorista, editor de antologias e curador de exposições de humor. Colunista do jornal Extra Classe.

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