sábado, 18 de março de 2023

Prêt-à-porter de Tafetá

Aldir Blanc e  Jão Bosco

Esta música de João Bosco e com letra de Aldir Blanc narra, com início meio e fim, à maneira carioca de dizer as coisas, uma cantada, com lances de recusa, e, finalmente, o encontro para o affair entre os personagens. 

Blanc utiliza-se de palavras francesas (com grafia incorreta) para sugerir os acontecimentos. Os sons das palavras estrangeiras dão o toque de malícia para entender a história, que, aparentemente, não quer dizer nada, mas diz tudo. Basta entendê-la. 

(O encontro) 

Pagode em Cocotá,
Vi a nega rebolá
Num preta-porter de tafetá.
Beijei meu patuá,
Ói, sambá, Ói, ulalá
Mé carrefour, o randevú vai começá.
 

(A recusa da abordagem) 

Além de me empurrá:
“Kes que sé, tamanduá?
Purquá jé suí du Zanzibar.”
 

(A cantada maliciosa) 

Aí, eu me criei: pas de bafo, mon bombom,
Pra que zangá?
Sou primo do Villegagnon.
Voalá e çavá, patati, patatá,
Boulevar, saravá, sou da Praça Mauá.
Dendê, matinê, padedê

Meu peticomitê, bambolê,
Encaçapo você.
 

(O encontro marcado e as perspectivas sacanas...) 

Taí, seu Mitterrand,
Marcamos pra amanhã em Paquetá,
Num flamboyant en fleur
Onde eu vou ter colher.

Pompadu? Zulu,
Manjei toá bocu!... 

P.S. Essa música está na internet, na voz do autor de música: João Bosco.

A letra da música contada 

Um pagode com música ao vivo em Cocotá, bairro da zona Norte do município do Rio de Janeiro, localizado na ilha do Governador. 

Um malandro avista uma linda mulata num vestido sensual, prêt-a-porter de tafetá, tecido muito antigo feito à base de fibra de seda ou material sintético. 

Para dar sorte e se dar bem na sua intenção de cortejar a moça, ele beija seu patuá, que é um amuleto muito utilizado por pessoas ligadas ao candomblé, e vai à luta. 

A moça, ao se sentir assediada por um desconhecido, empurra-o como defesa de seu corpo. O cara, então, resolve partir para uma conversação de malandro com boa lábia e se desculpando pela forma como ele a abordou, afinal ele é da Praça Mauá, que é uma praça situada no bairro do Centro, na zona portuária e boêmia da cidade do Rio de Janeiro. 

Depois de uma cantada muito convincente, eles resolvem se encontrar, no dia seguinte, na Ilha de Paquetá, à sobra de uma árvore, onde ele acha que irá se dar bem e comer algo muito íntimo e delicioso...

Um comentário: