quinta-feira, 9 de março de 2023

O Urso e o Gigante

Um urso e um gigante se encontram no meio de uma ponte estreita. Só um consegue passar, mas ambos se recusam a recuar para dar preferência ao outro. 

(...)

(...) O urso rugiu. O gigante fez cara feia. Recuar, jamais. Ficaram os dois ali, até que resolveram conversar. Chegaram à conclusão de que, com um abraço e um giro, poderiam passar, um segurando o outro. Não porque se amavam, ou porque mudariam de ideias sobre a vida, ou porque passariam a ser melhores amigos. Se abraçaram porque, logo ali embaixo, havia um abismo. E com esse gesto, conseguiram vencer o perigo maior. Cada um seguiu seu caminho. O gigante não virou urso nem o urso virou gigante. Cooperar é uma decisão racional, que sempre gera mais valor do que o conflito. Não é conversa fiada nem “bom-mocismo”. É uma questão objetiva. É só fazer as contas. A não ser que a imbecilidade seja tanta que a recompensa deixe de ser a superação do abismo e passe ser empurrar o outro em direção a ele. O outro que nem sempre é inimigo. Apenas caminha em um sentido diferente. 

(...) 

(Da crônica: “O urso, o gigante e o Laçador”, de Túlio Milman,

no jornal Zero Hora, março de 2023)


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