terça-feira, 20 de abril de 2021

Com uma ajuda do Rei

 

Roberto Carlos por Cícero Lopes 

(...) 

No livro “Roberto Carlos em detalhes”, de Paulo César Araújo, ele conta, por exemplo, que os compositores brasileiros corriam para mostrar a Roberto suas novas músicas, na expectativa de que uma delas fosse gravada no tradicional disco de Natal. Ser gravado por Roberto era ganhar na loteria. Houve quem comprasse casa com o dinheiro dos direitos autorais de uma única canção. 

Luiz Ayrão contou, numa entrevista, que um dia foi à casa de Roberto para lhe mostrar algumas músicas. Mostrou uma; Roberto não gostou. Mostrou a segunda; Roberto também não gostou. A terceira: nada feito. Luiz Ayrão já estava ficando sem músicas para apresentar, quando alguém avisou que Roberto estava sendo chamado ao telefone. Ele foi atender e Ayrão ficou dedilhando o violão e cantando uma música que ainda não estava pronta: 

Olhe aqui, preste atenção,
Essa é a nossa canção.
Vou cantá-la seja aonde for
Para nunca esquecer o nosso amor
Nosso amor.

Veja bem, foi você
A razão e o porquê.
De nascer esta canção assim,
Pois você é o amor que existe em mim.
 

Você partiu e me deixou,
Nunca mais você voltou
Pra me tirar da solidão.
E até você voltar,
Meu bem, eu vou cantar,
Essa nossa canção.
 

Roberto Carlos tapou com a mão o bocal do telefone e avisou: 

− É essa. Essa eu vou gravar! 

E “Nossa Canção” se transformou no primeiro sucesso romântico do Rei. 

Quer dizer: ele sabia o que estava fazendo, sabia o que queria, sabia onde pretendia chegar. É a excelência do intérprete unida à sabedoria na administração da própria trajetória. 

(Parte de uma crônica de David Coimbra, em Zero Hora, abril de 2021)

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