Roberto Carlos por Cícero Lopes
(...)
No livro “Roberto Carlos em detalhes”, de Paulo César Araújo, ele conta, por exemplo, que os compositores brasileiros corriam para mostrar a Roberto suas novas músicas, na expectativa de que uma delas fosse gravada no tradicional disco de Natal. Ser gravado por Roberto era ganhar na loteria. Houve quem comprasse casa com o dinheiro dos direitos autorais de uma única canção.
Luiz Ayrão contou, numa entrevista, que um dia foi à casa de Roberto para lhe mostrar algumas músicas. Mostrou uma; Roberto não gostou. Mostrou a segunda; Roberto também não gostou. A terceira: nada feito. Luiz Ayrão já estava ficando sem músicas para apresentar, quando alguém avisou que Roberto estava sendo chamado ao telefone. Ele foi atender e Ayrão ficou dedilhando o violão e cantando uma música que ainda não estava pronta:
Olhe
aqui, preste atenção,
Essa é a nossa canção.
Vou cantá-la seja aonde for
Para nunca esquecer o nosso amor
Nosso amor.
Veja
bem, foi você
A razão e o porquê.
De nascer esta canção assim,
Pois você é o amor que existe em mim.
Você
partiu e me deixou,
Nunca mais você voltou
Pra me tirar da solidão.
E até você voltar,
Meu bem, eu vou cantar,
Essa nossa canção.
Roberto Carlos tapou com a mão o bocal do telefone e avisou:
− É essa. Essa eu vou gravar!
E “Nossa Canção” se transformou no primeiro sucesso romântico do Rei.
Quer dizer: ele sabia o que estava fazendo, sabia o que queria, sabia onde pretendia chegar. É a excelência do intérprete unida à sabedoria na administração da própria trajetória.
(Parte de uma crônica de David Coimbra, em Zero Hora,
abril de 2021)
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