quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Abaporu:

 A história do quadro mais valioso da arte brasileira. 

Edison Veiga

Em 11 de janeiro de 1928, a pintora Tarsila do Amaral (1886-1973) acordou ansiosa. Era aniversário de seu marido, o escritor Oswald de Andrade (1890-1954), e ela tinha preparado uma surpresa: um quadro de 85 centímetros por 73 centímetros, pintado em segredo nos últimos meses. 

Com seu jeito afobado e verborrágico, Oswald nem deixou que a artista explicasse a obra. Foi logo elogiando, dizendo que era a coisa mais incrível que ela já tinha feito. “É excepcional este quadro”, dizia ele. “É o homem plantado na terra”. 

No mesmo dia, Oswald mostrou o presente para um de seus amigos, o poeta Raul Bopp (1898-1984). E juntos começaram a enxergar ali, naquela figura enigmática, um índio canibal, um homem antropófago, aquele que iria devorar a cultura para se apossar dela e reinventá-la. 

Tarsila empolgou-se com a interpretação e correu para um velho dicionário de tupi-guarani. Ali encontrou as palavras “aba” e “poru” ‒ “homem que come”. Estava batizado aquele que se tornaria o mais valioso quadro da arte brasileira, Abaporu. 

Mas o que seria apenas um presente de aniversário de uma artista para seu marido acabou transcendendo qualquer relacionamento para se tornar um dos quadros mais famosos do Brasil ‒ e, certamente, o mais valioso.

 *De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil - 3 abril 2019 

P.S. O ‘Abaporu’ está exposto no Museo de Arte Latino-americano de Buenos Aires (Malba), que você deveria conhecer caso tenha a oportunidade de conhecer a capital argentina. A obra foi comprada em 1995 pelo empresário argentino Eduardo Constantino por US$ 1,3 milhão de dólares.

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