Luís Fernando Veríssimo
−
Desculpe, a telefonista deve ter se enganado, eu não queria falar com o dono do
banco. Tem algum funcionário aí?
− Não, os funcionário tá tudo
refém.
−
Há, eu entendo. Afinal, eles trabalham quatorze horas por dia, ganham um
salário ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não
encontram outro emprego, né? Vida difícil... mas será que eu não poderia dar
uma palavrinha com um deles?
− Impossível. Eles tá tudo amordaçado.
−
Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho
da rua. Não haverá, então, algum chefe por aí?
−
Claro que não mermão. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar
mais seguro pra se comandar assalto!
−
Não, isso eu já sabia. Eu sou professor! O que eu queria mesmo era uma
informação sobre juro.
−
Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a
banco, vez ou outra um sequestro. Pra saber de juro é melhor tu ligá pra
Brasília.
−
Sei, sei. O senhor ta na informalidade, né? Também, com o preço que tão
cobrando por um voto hoje em dia... mas, será que não podia fazer um favor pra
mim? É que eu atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de
taxa.
− Tu tá pensando que eu tô
brincando? Isso é um assalto!
−
Longe de mim pensar que o senhor está de brincadeira! Que é um assalto eu sei
perfeitamente; ninguém no mundo cobra os juros que cobram no Brasil. Mas queria
saber o número preciso: seis por cento, sete por cento?
−
Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da
intimidação e da chantagem, saca?
−
Ah, já tava esperando. Você vai querer vender um seguro de vida ou um título de
capitalização, né?
−
Não...já falei...eu sou... Peraí bacana... hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o
teu galho.
−
Não, achava que era mais ou menos isso mesmo. Tô impressionado é que, pela
primeira vez na vida, eu consegui obter uma informação de uma empresa
prestadora de serviço pelo telefone em menos de meia hora e sem ouvir 'Pour
Elise'.
−
Quer saber? Fui com a tua cara. Acabei de dar umas bordoadas no gerente e ele
falou que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
−
Droga! Maldito Estado: quando o negócio começa a funcionar, entra o Governo e
estraga tudo!
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