sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Um clássico da MPB

 de um poema de Orestes Barbosa 

(1893-1966)

Foi compositor, poeta, escritor, e jornalista nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Só entrou na escola com 12 anos, por falta de recursos, e na sua infância foi alfabetizado pelo pai de Vinicius de Moraes, que também lhe ensinou a tocar violão. Trabalhou em vários jornais cariocas, Diário de Notícias, A manhã, A Noite, O Dia, O Globo e, em 1917, estreou como poeta. Orestes Barbosa é um dos grandes letristas da música popular brasileira, autor do verso quem sabe o mais belo da língua portuguesa, no dizer de Manuel Bandeira, “tu pisavas nos astros distraída”, que está em “Chão de estrelas”. Entre seus parceiros, Noel Rosa, Wilson Batista, Custódio Mesquita, Silvio Caldas, Francisco Alves, Heitor dos Prazeres, Valzinho. Dentre suas canções “Nega, meu bem”, com Heitor dos Prazeres, “Positivismo”, com Noel Rosa, “A mulher que ficou na taça”, com Francisco Alves, “Gato escondido”, com Custódio Mesquita, “Arranha-céu” e “Chão de estrelas”, com Silvio Caldas. 

(Revista Piauí) 

Veja, a seguir, a letra dessa obra-prima da nossa música. Repare na estrutura fixa do poema (métricas e rimas). Logo depois, (na internet) há um vídeo com uma interpretação de Sílvio Caldas. Nela, o cantor, já no final da carreira, explica rapidamente um pouco da origem da canção. Mesmo já idoso, a voz de Caldas se mantém sublime. Vale a pena conferir: 

(Do Blog Bonas Histórias) 

Cão de estrelas 

Orestes Barbosa (letra) e Silvio Caldas (música) 

Minha vida era um palco iluminado,

Eu vivia vestido de dourado,

Palhaço das perdidas ilusões.

Cheio dos guizos falsos da alegria,

Andei cantando a minha fantasia,

Entre as palmas febris dos corações. 

Meu barracão no morro do Salgueiro

Tinha o cantar alegre de um viveiro,

Foste a sonoridade que acabou.

E hoje, quando do Sol a claridade,

Forra o meu barracão, sinto saudade

Da mulher pomba-rola que voou. 

Nossas roupas comuns dependuradas

Na corda, qual bandeiras agitadas,

Pareciam um estranho festival.

Festa dos nossos trapos coloridos,

A mostrar que nos morros mal vestidos

É sempre feriado nacional. 

A porta do barraco era sem trinco,

Mas a Lua furando o nosso zinco,

Salpicava de estrelas nosso chão.

Tu pisavas nos astros, distraída,

Sem saber que a ventura desta vida

É a cabrocha, o luar e o violão... 

Chão de Estrelas 

A mais bela seresta na voz de Sílvio Caldas

(...) o jornalista e poeta Orestes Barbosa ficou surpreso com um pedido inusitado feito pelo amigo cantor. Sílvio caldas queria musicar uma criação poética feita por Orestes alguns anos antes. “Foste a Sonoridade que Acabou” era uma poesia em decassílabos que narrava a tristeza de um eu lírico masculino que havia perdido a mulher amada. Enquanto ela permaneceu ao seu lado, a vida pobre no Morro do Salgueiro tinha ganhado a dimensão de uma festa alegria e luxuosa. Veja um dos trechos mais famosos deste poema: “A porta do barraco era sem trinco/ Mas a lua, furando o nosso zinco/ Salpicava de estrelas nosso chão/ Tu pisavas nos astros, distraída/ Sem saber que a ventura desta vida/ É a cabrocha, o luar e o violão”. 

Sílvio Caldas ficou apaixonado por aquela letra ao mesmo tempo triste e com uma beleza poética profunda. Ele queria por que queria vê-la transformada em uma canção. Orestes, receoso do resultado, negou a princípio o pedido do amigo. Sílvio não desistiu da sua intenção. Apesar da negativa do autor, ele musicou o poema mesmo assim. Uma vez pronta a música, o cantor mostrou o trabalho para outro poeta, Guilherme de Almeida. Almeida, encantado com a canção, sugeriu que seu nome fosse “Chão de Estrelas” ao invés de “Foste a Sonoridade que Acabou”. Ou seja, além de aprovar a nova música de Caldas, ele a rebatizava com um nome mais simples e comercial. 

Manuel Bandeira foi outro poeta célebre na época que ficou maravilhado com a transformação do poema em uma seresta. Vendo todo mundo boquiaberto com sua letra, não coube outra coisa a Orestes Barbosa fazer do que autorizar a gravação daquela obra-prima. 

Sílvio Caldas, então com 29 anos, gravou, em 1937, o que seria sua mais famosa canção. “Chão de Estrelas”, contudo, não estourou rapidamente nas rádios do país. A música só se tornaria um grande sucesso em 1950. Foi nesse ano quando Sílvio, já um quarentão e considerado um dos melhores cantores do Brasil, regravou-a. A nova versão é idêntica à primeira. 

(Do Blog Bonas Histórias) 

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