Noel Rosa e Vadico
Seu garçom, faça o favor de
me trazer depressa
uma boa média que não seja
requentada,
um pão bem quente com
manteiga à beça,
um guardanapo e um copo
d’água bem gelada.
Feche a porta da direita com
muito cuidado,
que eu não estou disposto a
ficar exposto ao sol.
Vá perguntar ao seu freguês
do lado
qual foi o resultado do
futebol...
Se você ficar limpando a
mesa,
não me levanto nem pago a
despesa.
Vá pedir ao seu patrão
uma caneta, um tinteiro, um
envelope e um cartão.
Não se esqueça de me dar
palito
e um cigarro pra espantar
mosquito.
Vá dizer ao charuteiro
que me empreste uma revista,
um cinzeiro e um isqueiro...
Telefone ao menos uma vez
para 34-4333
e ordene ao seu Osório
que me mande um guarda-chuva
aqui pro nosso escritório.
Seu garçom, me empreste algum
dinheiro,
que eu deixei o meu com o
bicheiro.
Vá dizer ao seu gerente
que pendure esta despesa
no cabide ali em frente...
Não existe em nossa música popular crônica mais espirituosa sobre uma cena do cotidiano que a realizada por Noel Rosa em “Conversa de botequim”. Localizada em um café, ambiente que o autor conhecia como ninguém, a crônica tem como personagem principal um freguês desabusado que, ao preço de uma simples média com pão e manteiga, acha-se no direito de agir como se estivesse em sua casa. Assim, em ordens sucessivas, ele exige do garçom atendimento rápido e eficiente.
Completa esta obra-prima uma melodia sincopada de Vadico (Oswaldo Gogliano), que se casa com a letra de forma primorosa, como se as duas tivessem sido feitas ao mesmo tempo, por uma mesma pessoa.
(Do livro “A Canção no Tempo” Volume 1: 1901-1957, de Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello)
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