Luiz Coronel
O goleiro é um eremita
baixo a solidão das traves.
É um pacato cidadão.
Súbito é pássaro. Ave.
Sua casa é uma tapera
em patética solidão.
Jogam todos com os pés.
Só ele joga com as mãos.
Tem um destino de Átila
o goleiro em seus confins.
Onde ele pisa é chão raso.
Não cresce grama. Capim.
Por que não dorme na rede
enquanto o jogo acontece?
Não é possível. Há riscos.
A bola de repente aparece.
Ser goleiro é ser do contra.
Ele observa. Avalia. Mede.
O golo que todos procuram
por sua função, ele impede.
Nos dois tempos da partida
há calmarias e tormentos.
Perceba cobrança do pênalti:
Alinha-se um fuzilamento.
Ser goleiro é vocação?
Será que existe quem goste?
Preso às traves, qual um cão,
que se amarrasse num poste.
Ele salta do desamparo
com a fúria de um profeta.
Com que ímpeto o goleiro
chuta o tiro de meta!
Se a bola vem de escanteio
querem arrombar a porta.
Há tumulto em seus domínios.
É chuva de pedra na horta.
Para conter as torcidas,
os guardas formam paredes:
o suplício de um goleiro,
um frango no fundo das redes.
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