sábado, 22 de abril de 2023

O Goleiro

Luiz Coronel

O goleiro é um eremita

baixo a solidão das traves.

É um pacato cidadão.

Súbito é pássaro. Ave.


Sua casa é uma tapera

em patética solidão.

Jogam todos com os pés.

Só ele joga com as mãos.


Tem um destino de Átila

o goleiro em seus confins.

Onde ele pisa é chão raso.

Não cresce grama. Capim.


Por que não dorme na rede

enquanto o jogo acontece?

Não é possível. Há riscos.

A bola de repente aparece.


Ser goleiro é ser do contra.

Ele observa. Avalia. Mede.

O golo que todos procuram

por sua função, ele impede.


Nos dois tempos da partida

há calmarias e tormentos.

Perceba cobrança do pênalti:

Alinha-se um fuzilamento.


Ser goleiro é vocação?

Será que existe quem goste?

Preso às traves, qual um cão,

que se amarrasse num poste.


Ele salta do desamparo

com a fúria de um profeta.

Com que ímpeto o goleiro

chuta o tiro de meta!

 

Se a bola vem de escanteio

querem arrombar a porta.

Há tumulto em seus domínios.

É chuva de pedra na horta.

 

Para conter as torcidas,

os guardas formam paredes:

o suplício de um goleiro,

um frango no fundo das redes.

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