Carlo Manzoni
O Senhor Veneranda fez entrar o eletricista que ele chamara e mostrou-lhe o ferro de passar.
− Bom, disse o eletricista, olhando para o aparelho de todos os lados. O que é que ele tem?
− É elétrico, disse o Senhor Veneranda.
− Sim, estou vendo. Mas que tem ele? Está quebrado?
− Não, disse o Senhor Veneranda. Quando ligo à tomada, funciona perfeitamente. Quando não ligo, não funciona. Contudo, eu nunca ligo.
− E por que não o liga? − perguntou o eletricista, surpreso.
− Bom, se o senhor insistir para que o ligue, ligá-lo-ei. Mas então, que farei com ele?
− Como o que fará com ele? Passar, exclamou o eletricista. O ferro de passar é feito para passar.
− Isso eu sei, disse o Senhor Veneranda. Mas vou passar o quê? O senhor trouxe algo para passar?
− Eu, não, murmurou o eletricista que não mais sabia o que dizer.
− Então, por que o ligaria, já que nem eu nem o senhor temos algo para passar?
− Para ver se está quebrado.
− Já lhe afirmei que ele não está quebrado.
− Então, não o ligue, gritou o eletricista que começava a perder a paciência.
− Claro que não ligarei, berrou o Senhor Veneranda. Há meia hora que repito que não quero ligá-lo e vem agora o senhor me dizer que não o ligue. O senhor é bem esquisito.
− Diga-me, pois, por favor, disse o eletricista, procurando recuperar a calma, por que me chamou?
− O senhor é eletricista, não é?
− Sim, senhor, sou.
− E este ferro de passar é elétrico, não é?
− É, sim, senhor.
− Então, se o ferro é elétrico, quem deveria eu ter chamado na sua opinião, um carpinteiro?
− Eu, eu... gaguejou o eletricista, que não mais conseguia dizer uma palavra.
− Escute-me, disse o Senhor Veneranda, vejo que hoje as coisas não vão bem. Melhor deixar para nos entendermos outro dia. Tanto eu quanto o ferro podemos esperar
E acompanhou o eletricista até a porta, pedindo-lhe que voltasse no dia seguinte.
**********
(Do livro “Antologia Internacional do Riso”, Mansour
Challita)
Nenhum comentário:
Postar um comentário