Por Caue Fonseca*
Explicações da esquerda para a
direita, no alto e abaixo:
1) Em 1912, o Grêmio inaugurou um pavilhão para torcedores, que ficou conhecido como “pombal”. Décadas depois, a estrutura seria trocada por um zagueiro do Força e Luz: Airton Ferreira da Silva.
2) O chamado Fortim da Baixada
ficava no final da lomba da Mostardeiro, então um dos limites da cidade, que se
expandira até a Independência, metros acima.
3) Diferentemente do rival,
rodeado de eucaliptos, o campo do Grêmio era cercado por plátanos.
4) As goleiras do football
demoraram para contar com redes. Um auxiliar ficava de olho se a bola havia
entrado ou não em caso de dúvidas.
Estádio da Baixada:
1904 − 1954 − ao fundo, o “Pombal”.
*Em reportagem no jornal Zero Hora, julho de 2019.
Porto Alegre se expandira como um
leque a partir do Centro Histórico, junto ao Guaíba. Da Duque de Caxias em
direção à Independência, a Capital vinha recebendo novas residências. Todavia,
em 1904, a
cidade ainda terminava onde a lomba da Mostardeiro começava.
A partir dali, no seu limite
urbano, havia o que o escritor Eduardo Bueno chama de “zona de recreio”, uma
periferia chique composta de atrações como o Prado da Independência, onde
ocorriam páreos dominicais de corridas de cavalo, clube de atiradores Tiro
Alemão e o Mato Mostardeiro, onde famílias faziam piqueniques sob as árvores.
Na baixada, onde os
porto-alegrenses viam uma área de lazer, o major Augusto Kock, presidente do
Grêmio, viu um potencial caldeirão. Conseguiu um empréstimo junto a um banco
alemão e adquiriu parte do terreno. Após a terraplenagem, sócios fundadores do
Grêmio plantaram plátanos em torno do campo batizado com seu nome e inauguraram
o Fortim da Baixada, no coração do bairro Moinhos de Vento, vizinho à área que
hoje é o Parcão.
− É legal observar que o Grêmio
nasce em um lugar plural. Dona Laura Mostardeiro era uma baiana que realizava
os primeiros saraus da cidade. Na esquina da Mostardeiro com a hoje Florêncio
Ygartua, morava Pedro Weingärtner, maior pintor gaúcho. No time, jogaram os
Mostardeiro, que eram bugres − conta Bueno.
Não demorou para o Grêmio
rentabilizar o espaço. Em 1911, Koch convenceu cem associados a adquirirem
títulos e construiu o “pombal”, um pavilhão de madeira com capacidade para 500
torcedores assistirem aos jogos com mais conforto. O espaço foi inaugurado em
1912 e ampliado seis anos depois, passando a ser sede do clube.
Em 1909, quando recebeu o
arquirrival pela primeira vez, reza a lenda que o Grêmio não sabia exatamente
qual era a força do adversário, clube novo na cidade. Após um início cauteloso,
terminou o primeiro tempo vencendo “apenas” por 2 a 0. No segundo tempo, o
Grêmio se impôs e o Inter recebeu os outros oito gols do até hoje icônico 10 a 0. A primeira vitória colorada
assistida pela Baixada viria seis anos depois, por surpreendente 4 a 1 após um hiato de mais de
dois anos sem Gre-Nal.
Pavilhões
Nos exatos 50 anos (1904 a 1954) em que o Grêmio
jogou na Baixada, talvez o mais significativo dos títulos tenha sido o
Campeonato Farroupilha de 1935, torneio comemorativo ao aniversário da
Revolução. Jogando pelo empate, o Inter estava tão confiante que seus
torcedores tomavam 60% do estádio − um deles levou 11 cachorros pintados de
vermelho para soltar no gramado ao final do jogo.
Os planos pararam nos braços do
lendário goleiro Lara e do atacante Foguinho, que planejou meticulosamente um
gol de voleio estudando as rebatidas de cabeça da zaga. Foguinho também daria o
passe para o segundo gol, que selou o placar em 2 a 0. O foguetório do título
assustou os 11 cães, que acabaram atacando o próprio dono.
Após a mudança para o Olímpico,
em 1954, os pavilhões da Baixada seguiram no folclore futebolístico
porto-alegrense: foram dados ao Força e Luz em troca do zagueiro Airton, que
virou Airton Pavilhão.
Os estádios do Grêmio
Fortim da baixada: de agosto de 1904 a setembro de 1954;
Olímpico*: de setembro de 1954 a fevereiro de 2013;
Arena: desde dezembro de 2012.
*Olímpico teve uma grande reforma
de ampliação em 1980. Mesmo depois da Arena inaugurada, o estádio recebeu três
jogos pelo Gauchão de 2013.
Fontes da reportagem:
Célia Ferraz de Souza (UFRGS),
Heinrich
Hasenak (UFRGS),
Ariel
Engster (Museu do Inter),
Sandro Pasinato (Museu do Grêmio).
Eduardo Bueno, Kenny Braga e A História dos Gre-Nais
(L&PM, 2009)
O Grêmio e o Moinhos de Vento
No Moinhos de Vento, os alemães
instalaram duas de suas especialidades, as sociedades recreativas e esportivas.
Em 1903, homens de ascendência germânica haviam fundado o Grêmio Football
Porto-Alegrense no Centro da cidade. No ano seguinte, eles tomaram um
empréstimo no Banco Alemão e compraram um terreno de aproximadamente três
hectares no “Bosque do Moinhos de Vento”. A área estava situada no sopé da
íngreme ladeira que levava o nome da família do antigo proprietário, Hemetério
Mostardeiro. No local, foi construído o primeiro campo do Grêmio.
Posteriormente denominado de Estádio da Baixada, ele foi inaugurado com a
presença do Intendente José Montaury. Como o interesse pelo futebol ainda era
escasso, havia, inicialmente, apenas um pequeno coreto para as pessoas
assistirem aos jogos.
A crescente afluência de público,
porém, fez com que o Grêmio comprasse mais uma quadra da família Mostardeiro −
situada em frente à rua Dona Laura e ao campo − construísse um pavilhão para
acomodar os assistentes. Essa estrutura de madeira de belíssima composição
estilística* foi ampliada (1918) para abrigar a sede social do clube (salão nobre,
escritório e uma cancha de bolão). Foi em volta desse pavilhão, chamado de
“Pombal”, que surgiram as arquibancadas do estádio, comportando cerca de quatro
mil pessoas. O endereço oficial do Grêmio era Rua Mostardeiro, 59. Mais tarde,
o povoamento da rua faria com que o número passasse a 660. O Grêmio sairia dali
em 1953. Num canteiro da atual Avenida Goethe, há uma estrutura de concreto
medindo cerca 1,3 metros ,
marcando o local do antigo estádio.
Do livro
“Moinhos de Vento Histórias de um Bairro de Porto Alegre”.,
“Moinhos de Vento Histórias de um Bairro de Porto Alegre”.,
de Carlos Augusto
Bissón, Editora da Cidade.
* Em 1954, um jovem zagueiro do
Força e Luz, time modesto de Porto Alegre, foi vendido por 50 mil cruzeiros e
mais um pavilhão de arquibancadas da Baixada: Airton Ferreira da Silva
(31.10.1934−03.04.2012), que, por esse fato, receberia o apelido de “Airton
Pavilhão”. Eu, dos 9 aos treze anos, ia de graça ao estádio do Força e Luz, na rua
Alcides Cruz, no começo de Petrópolis, e brincava no pavilhão, foto colorida
acima, onde, na parte debaixo e interna do pavilhão, os sócios do Força e Luz jogavam boliche.
P.S. O terreno do estádio do Força e Luz foi comprado pela Cia Zaffari de Supermercados.
Nilo da Silva Moraes
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