By Gremio1983
Estamos na semana que antecede a
última partida do estádio Olímpico (Brasileirão de 2012). Não fosse isso um
fato importante por si só, o jogo marca também o último clássico Gre-Nal na
Azenha (Grêmio 0 X O Internacional). Certamente será bem interessante poder
vivenciar um evento histórico, um marco na história do clube.
Diante disso, eu me pergunto, o
que efetivamente será lembrado desse evento nos próximos anos? O que será
esquecido? O que aconteceu em situações parecidas com esta?
Pesquisando um pouco eu acabei
encontrando fotos e uma crônica do último Gre-Nal disputado no estádio da
Baixada. O jogo foi realizado em novembro de 1953, e foi vencido pelo Inter,
que aquela altura já era campeão citadino. O evento em si parece não ter gerado
maior comoção na época.
Eu confesso que fiquei um tanto
surpreso com a Baixada retratada nessas fotos. Sabia que era um estádio
acanhado (segundo o relato o campo estava lotado com pouco mais de 8 mil
pessoas), mas, além disso, podemos ver claramente que as arquibancadas careciam
de alguma manutenção (assim como também vemos um curioso placar manual e
torcedores com sombrinhas). Talvez seja um retrato fiel da época; talvez não
seja. E o que será que as pessoas iram “enxergar” daqui a 50 anos nas fotos do
Olímpico?
“O segundo tento marcado pelos
rubros foi de autoria do winger esquerdo Canhotinho. Acima vemos um flagrante do
Gre-Nal de ontem, apanhando justamente na metade do lance que terminaria nas
redes de Sérgio. Canhotinho, que se vê à esquerda, aproveitou a oportunidade
para consolidar a vitória de sua equipe. Na foto vê-se ainda Mirão, Sérgio,
Hugo, Bodinho e Zé Ivo.”
(Folha da Tarde
Esportiva – 02 de novembro de 1953)
Internacional Manteve a Invencibilidade!
A falta de técnica no Gre-Nal foi compensada pela
combatividade dos jogadores
Com o clássico Gre-Nal do
foot-ball porto-alegrense, encerrou-se ontem o campeonato do ano em curso. As tradicionais
dependências do “fortim” da Baixada apanharam, por esta ocasião, uma grande
assistência, que as lotou completamente, em que pese a tarde cálida, que não
animava o afeiçoado deter-se várias horas sob um sol causticante.
Não obstante, o velho campo da
Baixada reviveu uma de suas horas mais animadas; pois o público, presente, como
dissemos, em grande número, manteve-se sempre entusiasta e vibrante.
O match em si, como soe acontecer
nos confrontos entre as equipes do Grêmio e do Internacional, não foi dos mais
brilhantes, no que tange ao aspecto técnico. Mas não faltou combatividade aos
jogadores, de modo que, em momento algum, o cotejo entrou em monotonia.
O S. C. Internacional, que já
ingressou em campo, com as honras de campeão, indiferente ao resultado do
Gre-Nal, logrou triunfar mais uma vez, fechando assim com chave de ouro sua
temporada oficial, durante a qual não sofreu nenhuma derrota. Encontrou ontem
no Grêmio um adversário bem mais capacitado do que, no fundo, calculava; mas,
mesmo assim, galgou bem o obstáculo, completando sua campanha com mais uma
vitória, justa, sem dúvida, e merecida; tanto mais que seu adversário,
superando-se a si mesmo, mais que lhe dignificou a conquista.
De fato, o Grêmio, que vinha de uma
decepcionante derrota frente ao Cruzeiro, capacitou-se de sua responsabilidade,
como participe nato do mais importante choque do foot-ball porto-alegrense, e,
se bem não tenha conquistado a vitória, reabilitou-se em parte, atuando bem
melhor do que nas vezes anteriores. Mormente sua defensiva, sem embargo das
vezes que foi vencida, se constituiu num setor bastante sólido e eficiente,
considerando-se ainda que atuou sem dois titulares: Orli e Pipoca. Pôde assim o
quadro tricolor impor séria resistência aos comandos de Bodinho, fazendo que as
ações durante grande parte da contenda se equilibrassem e desta maneira
emprestassem ao clássico uma feição emocionante.
O Internacional fez jus à vitória
particularmente por duas circunstâncias: contou além de uma defesa soberba e
coesa, com uma linha, que se bem menos brilhante, muitas vezes mesmo tolhida
pelo adversário, foi suficiente prática para aproveitar as escassas oportunidades
que se lhes ensejaram. E nisso vai o melhor elogio de um setor que encontrou
difícil barreira pela frente, mas, que a despeito disso, ainda fez prevalecer
sua classe, construindo um triunfo laborioso, todavia brilhante.
Os primeiros cinco minutos do
embate caracterizaram-se pelo equilíbrio das ações: ambos os bandos
alternaram-se na ofensiva, ensaiando estabelecer o primeiro predomínio
territorial. Numa de suas investidas, o Internacional marcou, mas o juiz anulou
o tento por estar Jerônimo, seu autor, em posição ilegal. Sucedeu-se um período
breve de mais insistência do Grêmio na ofensiva; mas o Internacional revidou
energicamente, colocando em sério perigo ao arco de Sérgio. Houve, então, uma
fase de indecisão, durante a qual os dois teams
não conseguiam firmar-se no ataque, em face do melhor trabalho das defensivas.
A partir do 20º minuto, o Internacional passou a apresentar mais agressividade,
controlando melhor as ações e ameaçando mais amiudamente o último reduto
tricolor. Aos 32 minutos, Canhotinho, depois de fintar Mirão, desejou atirar
violentamente ao arco; mas falhou e o arremate se converteu num passe a Jerônimo,
que recém ingressara na área: o insider encheu o pé e surpreendeu Sérgio, cujo
salto sobre a bola foi tardo: estava marcado o primeiro tento da partida:
Internacional 1
Grêmio 0
Depois da conquista desse gol,
quando se acreditou que o Grêmio reagiria, viu-se pelo contrário, mais animado
e tranquilo, o Internacional a aumentar o seu volume de ações, procurando a
todo pano consolidar a vantagem com novo tento.
Desta maneira, o restante do
período pertenceu nitidamente aos rubros, cuja dianteira, contudo, não obstante
o maior número de investidas, não conseguia suplantar a vigilância dos
defensores da Baixada.
Entretanto, aos 41 minutos,
originou-se uma confusão diante do arco do Grêmio: Solis e Bodinho dela se
aproveitaram, para alvejar, mas, em ambas as oportunidades, o couro foi
devolvido, sendo que na segunda vez pelo arqueiro Sérgio, defendendo
parcialmente: a bola derivou para a esquerda, onde Canhotinho, entrando
oportunamente, entre dois defensores gremistas, logrou impulsionar a bola para
dentro do arco estabelecendo o escore definitivo.
Internacional 2
Grêmio 0
No segundo período, viu-se o
Internacional ainda predominando nas jogadas, durantes os primeiros minutos;
mas a seguir o Grêmio repontou um pouco e carregou com alguma insistência sobre
a área colorada. Nada de prática, porém, faziam os dianteiros do Grêmio, que
não coordenavam as tramas, deixando-se desarmar pelos rubros com relativa
facilidade.
Camacho e Paulinho, ainda no
início dessa etapa, machucaram-se, retirando-se ambos por alguns instantes da
cancha. O atacante gremista, contudo, não mais conseguiu recuperar-se. Foi
deslocado para a ponta, onde passou a fazer mera figura. Jogou o Grêmio, assim,
praticamente o restante do match com apenas dez homens válidos.
Podia por isso o Internacional,
valendo-se dessa circunstância, assenhorar-se definitivamente do terreno e das
ações, impondo ao adversário duro castigo. A dianteira colorada, porém, cada
vez mais dominada pelos tricolores, não colaborou o suficiente para isso: de
modo que o match foi-se arrastando, já agora com o Internacional mais
preocupado em fazer passar o tempo, e conservar a vantagem inicial, do que
mesmo alardear sua superioridade técnica.
Era virtualmente impossível, de
resto, ao Grêmio, recuperar o terreno perdido; seu quinteto avançado já era uma
peça nula, mas inoperante ficou depois que Camacho resumiu sua atividade a
intervir em lances esporádicos.
O foot-ball, que já não era dos
melhores, com Internacional agora a conformar-se com os 2×0 e o Grêmio
impossibilitado de reagir, decaiu ainda mais; e teria resvalado definitivamente
para a completa pasmaceira, não fosse a ação enérgica e laboriosa de alguns
elementos, que não deixaram o jogo “morrer” de todo.
Não se registrou, porém, nenhum
contraste nessa segunda fase, findando o match com o placar da fase inicial:
2×0, pró Internacional.
Ao terminar o cotejo, os
jogadores, dando bonita demonstração de cavalheirismo, abraçaram-se
amigavelmente, encerrando-se assim com exemplar cordialidade mais uma página do
clássico eterno: o Gre-Nal.
Foi juiz do prélio o senhor
Fortunato Tonelli, que em geral marcou bem as faltas, com erros de pequena
monta. Às vezes, querendo resguardar sua autoridade, excedeu-se nas repreensões,
desagradando a torcida e os jogadores. Mas conseguiu levar a bom termo sua
espinhosa missão.
Na preliminar, bateram-se os
quadros de aspirantes das duas agremiações. Alardeando grande superioridade
técnica, os rapazes do Grêmio levaram a melhor, por um escore que não reflete
sua inconteste supremacia nas jogadas: 1×0 […] Ao encerrar-se o match,
demonstrando cabalmente o inconveniente, injustificavelmente não reprimido, de
soltar rojões em campos de foot-ball, um deles estourou junto às vistas de um
player gremista, somente por grande sorte não se registraram consequências
lamentáveis.”
(Folha da Tarde
Esportiva – 2 de novembro de 1953)
Ficha técnica da partida
Grêmio 0 x 2 Internacional
GRÊMIO:
Sérgio, Hugo e Noronha; Mirão,
Laerte e Zé Ivo; Tesourinha, Bebeto, Camacho, Mujica e Torres.
INTERNACIONAL:
Milton, Lindoberto e Oreco;
Paulinho, Salvador e Odorico; Luizinho, Solis, Bodinho, Jerônimo e Canhotinho.*
Data: 1º de novembro de 1953, domingo;
Local: Baixada, em Porto Alegre-RS ;
Público: 8.955 (6.287 pagantes);
Renda: Cr$ 163.740,00
Árbitro: Fortunato Tonelli;
Auxiliares: Belo e Sroka;
Gols: Jerônimo aos 32 minutos e Canhotinho aos 41 minutos do
primeiro tempo.
*****
*Dois anos depois desse Gre-Nal,
em 1955, aos dez anos, eu assistiria ao meu primeiro clássico: com o time do
Inter com os seguintes jogadores: Lapaz, Florindo e Oreco; Mossoró, Odorico e
Lindoberto; Luizinho, Bodinho, Larry, Jerônimo e Chinesinho.
Com exceção do goleiro Milton, do
lateral Paulinho, do zagueiro Salvador, do meia Solis e do ponteiro Canhotinho,
o restante do time jogou esse Gre-Nal inesquecível da minha vida.
NSM
O Fortim da Baixada
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