terça-feira, 23 de julho de 2019

A primeira casa colorada

Por Caue Fonseca*


Explicações da esquerda para a direita, no alto, meio e abaixo: 

1) Outros registros dão conta de usos sociais da Chácara, como mesas para jantares. O campo era acessível aos torcedores a ponto de poder se estacionar um calhambeque ao lado do gramado.

2) As arquibancadas eram escoradas nos eucaliptos que davam nome ao espaço. Além de sombra, as árvores propiciavam um cheiro forte de eucalipto no campo.

3) São raros os registros fotográficos da Chácara dos Eucaliptos. Uma das quatro fotos é do pórtico com os dizeres Sport Club Internacional, ladeado por colunas de Alvenaria, na Rua da Azenha.

4) Considerado um luxo na época, a Chácara contava com vestiários para os dois times e chuveiros. 


Chácara dos Eucaliptos: 1913 −1928

*Em reportagem no jornal Zero Hora, julho de 2019.

Havia motivos dentro e fora de campo para os colorados tivessem uma expectativa alta para o “match” de 8 de julho de 1913, quando correria a primeira rodada do Campeonato da Cidade. Até o ano anterior, o Inter não tinha um local para chamar de casa: dividia espaço com o time do Colégio Militar, em um campo improvisado onde hoje está situado o Hospital de Pronto-Socorro. Mas em 1912 o Inter se mudou para a agradável e bucólica Chácara dos Eucaliptos, entre os bairros Menino Deus e Azenha.

A mudança do clube para lá acompanhava o desenvolvimento da região sul da cidade. Oito anos antes, começaram o trabalho de calçamento do antigo caminho, que se tornava Rua da Azenha. Era nela que ficava o pórtico registrado em uma das raras fotos do Inter em sua primeira casa, com os dizeres “Sport Club Internacional” ladeado por colunas de alvenaria. O espaço pertencia ao Asilo da Providência e era alugado ao Inter.

Comparada ao campo do Militar, que precisava ser delimitado com cal a cada jogo, a Chácara era um luxo: havia vestiário com chuveiros para as duas equipes. As arquibancadas ficavam escoradas nos eucaliptos, que faziam sombra e exalavam um cheiro agradável da árvore. E, na fatídica data de 1913, seria a primeira vez que o Inter receberia em sua nova casa o Grêmio, sob um novo clima. Nos primeiros quatro Gre-Nais, o Inter sofrera derrotas indiscutíveis: foram 31 gols sofridos e apenas um marcado. Mas algo havia mudado no quinto jogo: em setembro de 1912, em partida equilibrada, o Inter perdeu por apenas 2 a 1 no Fortim da Baixada, estádio do rival, no Moinhos de Vento.

O placar se repetiria no primeiro Gre-Nal da Chácara dos Eucaliptos, em um jogo atípico. A começar pelo juiz, que não compareceu e teve de ser substituído por um voluntário do Clube S.C. Colombo.

Mas a rivalidade, enfim estava instaurada. Outra vez dentro e fora de campo: depois do confronto, mais uma vez equilibrado, o Grêmio se desentendeu com a liga municipal e os times passaram mais de dois anos sem se enfrentar, ambos se declarando campeões de ligas independentes ao final do ano.

Recordista

Quando voltaram a se encontrar, a gangorra havia se invertido: o Inter venceu por 4 a 1 na Baixada, em 1915. Um ano depois, às sombras dos eucaliptos da Chácara, o Grêmio levou 6 a 1 em uma das atuações mais endiabradas de todos os tempos em Gre-Nal: a do ponteiro colorado Vares, que marcou os seis gols, um recorde até hoje.

− O Inter foi muito feliz na Chácara. Em um espaço de oito anos, foi pentacampeão da cidade − conta Kenny Braga, autor do livro “Inter, orgulho do Brasil”.

Em 1928, os gestores do Providência anunciaram a venda do terreno onde estava a Chácara e botaram um preço: 40 mil contos de réis, uma pequena fortuna que o Inter não tinha. Após dois anos de incertezas, uma vigorosa campanha de arrecadação de fundos foi mobilizada para a construção do Estádio dos Eucaliptos, na Rua Silveiro. Da primeira casa, ficou a homenagem no batismo e nas mudas plantadas em torno do campo.

O terreno da antiga Chácara hoje forma as quadras entre as ruas Germano Hasslocher, Botafogo e Azenha, a metros de onde o Grêmio ergueria o Olímpico em 1954.

Os estádios do Inter

Chácara dos Eucaliptos: de julho de 1913 a março de 1928;
Estádio dos Eucaliptos: de março de 1931 a março de 1969;
Beira-Rio*: desde abril de 1969.

*Em 2013, houve reforma para a Copa de 2014.

Fontes da reportagem:

Célia Ferraz de Souza (UFRGS),
Heinrich Hasenak (UFRGS),
Ariel Engster (Museu do Inter),
Sandro Pasinato (Museu do Grêmio).
Eduardo Bueno, Kenny Braga e A História dos Gre-Nais (L&PM, 2009)



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