quinta-feira, 11 de julho de 2019

Querência é tudo o que eu tenho

Hugo Ramirez


Querência é tudo o que eu tenho,
O ranchinho onde eu nasci,
A vista da planície verde
Dos meus tempos de guri.

Baguais em pelo montados,
Tombos de prancha no chão,
Touro brabo atropelando
Em rodeio e apartação.

Crendices maravilhosas
Como outras iguais não há.
Assombração no Jarau,
Lobisime, boi-ta-tá...

Alma penada rondando
Por figueiras e umbuzais,
Negrinho do Pastoreio
Galopando nos baguais...

Churrascos todos os dias,
Antes da lida campeira,
E o chimarrão saboroso
Que torna a vida fagueira.

Correndo os anos, amores,
Peleias no partidor,
A chinoca e sinhazinha
Das serenatas de amor.

Depois de muito rolar,
Casar e sentar o juízo.
Quedar-se mirando o campo,
À sombra de um paraíso.

Doce prazer sem igual
Que me faz forte e feliz,
Como esses postes de cerca
Que pegam broto e raiz.

Eis a querência, o torrão,
Que o bom vaqueano palmilha,
Soprar do vento minuano
Corcoveando na coxilha...

Por onde quer que eu me vá,
Levo comigo o rincão,
Ronda de tropa ao ar livre
Pousando em meu coração.

Querência é tudo o que eu tenho,
O ideal que no peito eu trago,
O sangue da minha raça
E alma imortal do meu pago!


Hugo Ramirez: nascido em Uruguaiana, no dia 12 de abril de 1922, o tradicionalista participou de importantes momentos do tradicionalismo gaúcho, presidindo o Movimento por duas gestões, nos anos de 1970 e 1971. Foi 3ª vice-presidente do 1° Congresso Tradicionalista, em 1954, e presidente do 50ª Congresso, ambos realizados em Santa Maria. Durante sua vida, atuou como jornalista, advogado e educador, além de ter escrito mais setenta obras, com destaque para o romance “Rio dos Pássaros”, título enaltecido pela Academia Brasileira de Letras.

Também foi um dos idealizadores da Estância da Poesia Crioula, em 1957, presidindo a entidade por três gestões. Em sua trajetória tradicionalista, também foi fundador do CTG Galpão Campeiro, em Erechim, 13ª entidade a ser criada no Rio Grande do Sul. Atualmente, era conselheiro benemérito e conselheiro Vaqueano do MTG. Em 2003, foi condecorado com a Medalha do Mérito Tradicionalista Barbosa Lessa, a mais alta comenda do tradicionalismo gaúcho.

Faleceu em Porto Alegre, onde residia, no dia 01 de agosto de 2007. Foi velado no 35 CTG e sepultado às 10 horas, do dia 02, no Cemitério João XXIII.

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