sexta-feira, 12 de julho de 2019

Uma prosa e um poema

O homem que não dormia

Herbert Moses
    
Todas as noites, quando os filhos e a mulher adormeciam, ele beijava-os, dava um jeito nos lençóis, punha calmamente o chapéu na cabeça e saía em ponta de pés.

Todas as noites, quer chovesse quer houvesse estrelas no céu, repetia-se aquela mesma cena.

Só voltava ao romper da alvorada, quando os filhos e a mulher ainda dormiam. À luz dos primeiros raios do sol que entravam pela janela, ele vinha em ponta de pés, beijava a família e dava um jeito nos lençóis.

Não passava uma noite em casa.

Mas nem a mulher nem os filhos se queixavam. Não tinham uma palavra de censura para aquele esposo e pai que passava as noites na rua. Ele, por seu lado, também não se desculpava de sair todas as noites...

Porque era ele o guarda-noturno da zona.

   
Se eu fosse um padre

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
− muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
...e um belo poema − ainda que de Deus se aparte
− um belo poema sempre leva a Deus!

Mario Quintana

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