O homem que não dormia
Herbert Moses
Todas as noites, quando os filhos e a
mulher adormeciam, ele beijava-os, dava um jeito nos lençóis, punha calmamente
o chapéu na cabeça e saía em ponta de pés.
Todas as noites, quer chovesse quer
houvesse estrelas no céu, repetia-se aquela mesma cena.
Só voltava ao romper da alvorada,
quando os filhos e a mulher ainda dormiam. À luz dos primeiros raios do sol que
entravam pela janela, ele vinha em ponta de pés, beijava a família e dava um
jeito nos lençóis.
Não passava
uma noite em casa.
Mas nem a mulher nem os filhos se
queixavam. Não tinham uma palavra de censura para aquele esposo e pai que
passava as noites na rua. Ele, por seu lado, também não se desculpava de sair
todas as noites...
Porque era
ele o guarda-noturno da zona.
Se eu fosse um padre
Se eu fosse um padre, eu, nos
meus sermões,
não falaria em Deus nem no
Pecado
− muito menos no Anjo
Rebelado
e os encantos das suas
seduções,
não citaria santos e
profetas:
nada das suas celestiais
promessas
ou das suas terríveis
maldições...
Se eu fosse um padre eu
citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais
belos,
desses que desde a infância
me embalaram
e quem me dera que alguns
fossem meus!
Porque a poesia purifica a
alma
...e um belo poema − ainda
que de Deus se aparte
− um belo poema sempre leva a
Deus!
Mario Quintana
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