Papai, eu quero uma embaixada!**
− Papai, eu quero uma embaixada!
− Escolhe uma que o papai vai ver se tem, tá OK?
− Eu quero a Embaixada da Holanda!
− Lá na Holanda você não fica bem.
− Por quê, papai?
− A seleção da Holanda é laranja,
E seu irmão vai querer ir pra lá também.
− Papai, eu quero uma embaixada!
− Escolhe uma que o papai vai ver se tem.
− Eu quero ser embaixador na França!
− Mas lá na França você não fica bem.
− Por quê, papai?
− Porque o francês faz biquinho e fala oui,
E filho meu não fazer isso daí!
− Papai, eu quero uma embaixada!
− Escolhe uma que o papai vai ver se tem, tá OK?
− Eu quero a Embaixada dos States!
− A dos States papai gosta também.
− Por quê, papai?
− Nos States você tem experiência,
Fala inglês e frita hambúrguer muito bem.
*Nepotismo é um termo utilizado
para designar o favorecimento de parentes ou amigos próximos em detrimento de
pessoas mais qualificadas, geralmente no que diz respeito à nomeação ou
elevação de cargos públicos e políticos.
Etimologicamente, este termo se
originou a partir do latim nepos, que significa literalmente “neto” ou
“descendente”.
**Do programa satírico “Isso a
Globo não mostra”, exibido no Fantástico de 14 de julho de 2019.
P.S. A gravação dessa paródia está na Internet, imperdivel!
Nãopotismo
Luís Fernando Veríssimo
Não sejamos injustos. A discussão
sobre se um presidente da República nomear um filho embaixador constitui
nepotismo ou não toma um rumo indesejável, agravado pela ignorância ou a má-fé.
Muitos não sabem, ou fingem não
saber – ou, ao contrário do filho do presidente, não conhecem outra língua além
do português –, que a palavra nepote é italiana, significa “sobrinho” e ganhou
conotação política com o costume dos papas antigos de presentear parentes com
poder, ou nacos de poder, uma prática que ganhou o nome de “nepotismo”.
Os críticos do presidente não
aceitam os argumentos dos que o defendem lembrando que – como é um presidente
diferente, com um estilo só seu e hábitos incomuns como o de treinar tiro ao
alvo mirando o próprio pé – não se poderia esperar que fosse um presidente
comum. Também não devemos esquecer que o homem que hoje diz que um presidente
nomear um filho embaixador não é nepotismo é o mesmo que disse que não houve
ditadura no Brasil, uma opinião também ridicularizada, na época, mas que provou
ser a mesma de 57,7 milhões de eleitores brasileiros, desagravando o presidente.
Para responder aos seus críticos, o presidente poderia recorrer à ironia e também ridicularizá-los, lembrando que – como a ditadura – a prática de nomear parentes nunca existiu no Brasil; portanto, o que existe é o que poderia ser chamado de “nãopotismo”. Ou então, já que só pode ser coisa de comunista tentando ressuscitar a esquerda, de “neopetismo”.
Ou o presidente pode contra-atacar e desafiar seus críticos a encontrar um exemplo, na sua administração – apenas um, em todos os ministérios, em todos os partidos da sua base, entre todos os chefes de gabinetes e auxiliares de escritório, e todos os parlamentares que o apoiam, entre ascensoristas, motoristas, faxineiras, telefonistas, cozinheiras, empregados, animais de estimação, membros da sua família – apenas um sobrinho do Papa.
(Do jornal Zero Hora,
18 de julho de 2019)
São tantos erros q esse governo vem cometendo... mas essa indicação já e de mais.
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