quinta-feira, 18 de julho de 2019

Nepotismo* é isso aí...

Papai, eu quero uma embaixada!**


− Papai, eu quero uma embaixada!
− Escolhe uma que o papai vai ver se tem, tá OK?
− Eu quero a Embaixada da Holanda!
− Lá na Holanda você não fica bem.
− Por quê, papai?
− A seleção da Holanda é laranja,
   E seu irmão vai querer ir pra lá também.

− Papai, eu quero uma embaixada!
− Escolhe uma que o papai vai ver se tem.
− Eu quero ser embaixador na França!
− Mas lá na França você não fica bem.
− Por quê, papai?
− Porque o francês faz biquinho e fala oui,
   E filho meu não fazer isso daí!

− Papai, eu quero uma embaixada!
− Escolhe uma que o papai vai ver se tem, tá OK?
− Eu quero a Embaixada dos States!
− A dos States papai gosta também.
− Por quê, papai?
− Nos States você tem experiência,
   Fala inglês e frita hambúrguer muito bem.

*Nepotismo é um termo utilizado para designar o favorecimento de parentes ou amigos próximos em detrimento de pessoas mais qualificadas, geralmente no que diz respeito à nomeação ou elevação de cargos públicos e políticos.

Etimologicamente, este termo se originou a partir do latim nepos, que significa literalmente “neto” ou “descendente”.

**Do programa satírico “Isso a Globo não mostra”, exibido no Fantástico de 14 de julho de 2019.

P.S. A gravação dessa paródia está na Internet, imperdivel!

Nãopotismo

Luís Fernando Veríssimo

Não sejamos injustos. A discussão sobre se um presidente da República nomear um filho embaixador constitui nepotismo ou não toma um rumo indesejável, agravado pela ignorância ou a má-fé.

Muitos não sabem, ou fingem não saber – ou, ao contrário do filho do presidente, não conhecem outra língua além do português –, que a palavra nepote é italiana, significa “sobrinho” e ganhou conotação política com o costume dos papas antigos de presentear parentes com poder, ou nacos de poder, uma prática que ganhou o nome de “nepotismo”.

Os críticos do presidente não aceitam os argumentos dos que o defendem lembrando que – como é um presidente diferente, com um estilo só seu e hábitos incomuns como o de treinar tiro ao alvo mirando o próprio pé – não se poderia esperar que fosse um presidente comum. Também não devemos esquecer que o homem que hoje diz que um presidente nomear um filho embaixador não é nepotismo é o mesmo que disse que não houve ditadura no Brasil, uma opinião também ridicularizada, na época, mas que provou ser a mesma de 57,7 milhões de eleitores brasileiros, desagravando o presidente.

Para responder aos seus críticos, o presidente poderia recorrer à ironia e também ridicularizá-los, lembrando que – como a ditadura – a prática de nomear parentes nunca existiu no Brasil; portanto, o que existe é o que poderia ser chamado de “nãopotismo”. Ou então, já que só pode ser coisa de comunista tentando ressuscitar a esquerda, de “neopetismo”.

Ou o presidente pode contra-atacar e desafiar seus críticos a encontrar um exemplo, na sua administração – apenas um, em todos os ministérios, em todos os partidos da sua base, entre todos os chefes de gabinetes e auxiliares de escritório, e todos os parlamentares que o apoiam, entre ascensoristas, motoristas, faxineiras, telefonistas, cozinheiras, empregados, animais de estimação, membros da sua família – apenas um sobrinho do Papa.

(Do jornal Zero Hora, 18 de julho de 2019)

Um comentário:

  1. São tantos erros q esse governo vem cometendo... mas essa indicação já e de mais.

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