sexta-feira, 12 de julho de 2019

Kremesse

Olegário Mariano

1

Foi num dia de kremesse.
Depois de rezá três prece
Pra que os santo me ajudasse,
Deus quis que nós se encontrasse
Pra que nós dois se queresse,
Pra que nós dois se gostasse.

2

Inté os sinos dizia,
Na matriz da freguesia,
Que embora o tempo corresse,
Que embora o tempo passasse,
Que nós sempre se queresse,
Que nós sempre se gostasse.

3

Um dia, na feira, eu disse
Com a voz cheia de meiguice
Nos teus ouvido, bom doce:
- “Rosinha, si eu te falasse...
Si eu te beijasse na face...
Tu me dás-se um beijo?” - Dou-se.

4

E toda a vez que nos vemo,
A um só tempo perguntemo
Tu a mim, eu a vancê:
Quando é que nós se casemo,
Nós que tanto se queremo,
Pro que esperamo, pro quê?

5

Vancê não falou comigo
E eu com vancê, pro castigo,
Deixei de falá também,
Mas, no decorrê dos dia,
Vancê mais bem que queria
E eu mais te queria bem.

6

“Cabôco, vancê não presta,
Vancê tem ruga na testa,
Veneno no coração”.
Rosinha, vancê me xinga,
Morte a surucutinga,
Mas fica o rastro no chão.

7

E de uma vez, (bem me alembro!)
Resto de safra... Dezembro...
Os carro afundando o chão.
Veio um home da cidade
E ao curumé Zé Trindade
Foi pedi a tua mão.

8

Peguei no meu cravinote
Dei quatro ou cinco pinote
Burrecido como o quê,
Jurgando, antes não jurgasse,
Que tu de mim não gostasse...
Quando eu só amo a vancê.

9

Esperei outra kremesse
Que o seu vigário viesse
Pra que nós dois se casasse,
Mas Deus não quis que assim sesse
Pro mais que nós se queresse
Pro mais que nós se gostasse!





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