Tripulação Fantasma
22 de novembro de 1944
Exceto pelo contínuo troar dos
motores dos aviões que, em formações muito altas, voavam invisíveis a olho nu,
a manhã corria relativamente tranquila pelos campos arados perto de Liège na
Bélgica.
Ali perto, numa base do Exército Britânico,
o Major John Crisp às voltas com a papelada da sua unidade, é surpreendido com
um barulhão grave e forte, aproximando-se rapidamente que estremece sua
escrivaninha. Saindo apressado porta a fora do escritório, sentiu os cabelos
eriçarem ao ver um enorme quadrimotor passar rugindo, bem por cima da sua
cabana de madeira a menos de 50
metros de altitude. Bastante danificado, a aeronave
estava em apuros e adivinhavam-se seus pilotos lutando com os controles para aterrissar
aquele castigado B-17.
O bombardeiro depois de raspar a
cabana do Major, tocou o chão com violência, mas suas rodas aguentaram o
tranco; voltou a erguer-se suavemente e um tanto desnivelado bateu a ponta da
asa esquerda no chão, o que provocou o amassamento das hélices e o travamento
do motor externo. Corrigindo milagrosamente o efeito da primeira pancada, a
Fortaleza Voadora nivelou as asas e, então, efetuou um pouso perfeito em três
pontos, detendo-se finalmente.
O pessoal da base correu e
aproximou-se aguardando a abertura das escotilhas e a saída da tripulação para
terra, porém nada aconteceu. O avião permanecia estacionado com dois dos seus
motores funcionando, sem nenhuma atividade a bordo e sem ninguém saltar para fora.
Depois de aguardar uns vinte
minutos, o Major Crisp aproximou-se e aproveitando as comportas do
compartimento de bombas abertas, espichou-se para o interior do avião e olhou
para frente e depois para trás da fuselagem. Não havia ninguém! Todos os postos
estavam abandonados. Cautelosamente, subiu para a cabine e intrigado com o
mistério, desligou os dois motores que ainda funcionavam. Ao silêncio que
seguiu, chamou por alguém, mas não obteve resposta. Olhando para a retaguarda
da fuselagem, o Major custava a entender como aquele avião tinha pousado sem
tripulação. Ao passar pela mesa do navegador viu o livro de bordo aberto com as
últimas palavras escritas: “Bad flak”. Aqui começa a lenda da Fortaleza
Fantasma.
Horas antes...
O B-17 serial 43-38545 do 324º
Esquadrão, uma Fortaleza Voadora ainda nova, voava sua terceira missão sobre os
alvos petrolíferos de Merseburg, Alemanha.
Na fase final do bomb run (corrida de bombardeio) as
coisas começaram a dar errado: as bombas emperraram nas baias e não foram
liberadas. Isso era um baita problema e, sobrecarregado, o avião foi ficando
rapidamente para trás, acabando por perder contato com os boxes. Um prato cheio
para artilheiros de antiaérea e caças alemães! E isso não demorou pra
acontecer, pois a Fortaleza logo foi enquadrada com uma granada de 88 mm que explodiu bem abaixo
do compartimento de bombas, liberando a carga por completo. De roldão o motor
nº 3 foi arrancado do berço e o nº 2 danificado, causando graves vibrações por
todo o avião.
Para complicar, o sistema
hidráulico foi atingindo, liberando as rodas, o que aumentou ainda mais o
arrasto da aeronave. Tão rápido quanto podia a tripulação jogou para fora todo
o excesso de peso, que de nada adiantou, já que a Fortaleza continuou perdendo
altitude. A 600 metros
de altura o piloto, Capitão Harold R. De Bolt colocou o B-17 no piloto
automático e ordenou que todos saltassem.
O fato é que, abandonado, o
quadrimotor seguiu seu voo, permanecendo em atitude de pouso e incrivelmente
teve à sua frente um vasto campo onde, para espanto geral, pousou muito bem,
dada as circunstâncias!
Toda a
tripulação foi resgatada por uma patrulha do exército britânico.
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