quinta-feira, 11 de julho de 2019

Um fato inusitado de Segunda Guerra Mundial

Tripulação Fantasma

22 de novembro de 1944


Exceto pelo contínuo troar dos motores dos aviões que, em formações muito altas, voavam invisíveis a olho nu, a manhã corria relativamente tranquila pelos campos arados perto de Liège na Bélgica.

Ali perto, numa base do Exército Britânico, o Major John Crisp às voltas com a papelada da sua unidade, é surpreendido com um barulhão grave e forte, aproximando-se rapidamente que estremece sua escrivaninha. Saindo apressado porta a fora do escritório, sentiu os cabelos eriçarem ao ver um enorme quadrimotor passar rugindo, bem por cima da sua cabana de madeira a menos de 50 metros de altitude. Bastante danificado, a aeronave estava em apuros e adivinhavam-se seus pilotos lutando com os controles para aterrissar aquele castigado B-17.

O bombardeiro depois de raspar a cabana do Major, tocou o chão com violência, mas suas rodas aguentaram o tranco; voltou a erguer-se suavemente e um tanto desnivelado bateu a ponta da asa esquerda no chão, o que provocou o amassamento das hélices e o travamento do motor externo. Corrigindo milagrosamente o efeito da primeira pancada, a Fortaleza Voadora nivelou as asas e, então, efetuou um pouso perfeito em três pontos, detendo-se finalmente.

O pessoal da base correu e aproximou-se aguardando a abertura das escotilhas e a saída da tripulação para terra, porém nada aconteceu. O avião permanecia estacionado com dois dos seus motores funcionando, sem nenhuma atividade a bordo e sem ninguém saltar para fora.

Depois de aguardar uns vinte minutos, o Major Crisp aproximou-se e aproveitando as comportas do compartimento de bombas abertas, espichou-se para o interior do avião e olhou para frente e depois para trás da fuselagem. Não havia ninguém! Todos os postos estavam abandonados. Cautelosamente, subiu para a cabine e intrigado com o mistério, desligou os dois motores que ainda funcionavam. Ao silêncio que seguiu, chamou por alguém, mas não obteve resposta. Olhando para a retaguarda da fuselagem, o Major custava a entender como aquele avião tinha pousado sem tripulação. Ao passar pela mesa do navegador viu o livro de bordo aberto com as últimas palavras escritas: “Bad flak”. Aqui começa a lenda da Fortaleza Fantasma.

Horas antes...

O B-17 serial 43-38545 do 324º Esquadrão, uma Fortaleza Voadora ainda nova, voava sua terceira missão sobre os alvos petrolíferos de Merseburg, Alemanha.

Na fase final do bomb run (corrida de bombardeio) as coisas começaram a dar errado: as bombas emperraram nas baias e não foram liberadas. Isso era um baita problema e, sobrecarregado, o avião foi ficando rapidamente para trás, acabando por perder contato com os boxes. Um prato cheio para artilheiros de antiaérea e caças alemães! E isso não demorou pra acontecer, pois a Fortaleza logo foi enquadrada com uma granada de 88 mm que explodiu bem abaixo do compartimento de bombas, liberando a carga por completo. De roldão o motor nº 3 foi arrancado do berço e o nº 2 danificado, causando graves vibrações por todo o avião.

Para complicar, o sistema hidráulico foi atingindo, liberando as rodas, o que aumentou ainda mais o arrasto da aeronave. Tão rápido quanto podia a tripulação jogou para fora todo o excesso de peso, que de nada adiantou, já que a Fortaleza continuou perdendo altitude. A 600 metros de altura o piloto, Capitão Harold R. De Bolt colocou o B-17 no piloto automático e ordenou que todos saltassem.

O fato é que, abandonado, o quadrimotor seguiu seu voo, permanecendo em atitude de pouso e incrivelmente teve à sua frente um vasto campo onde, para espanto geral, pousou muito bem, dada as circunstâncias!

Toda a tripulação foi resgatada por uma patrulha do exército britânico.


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