quinta-feira, 4 de junho de 2020

Tipos folclóricos da Rua Praia



Uma fauna sortida

Marcello Campos*

No álbum de tipos pitorescos que borboletearam pela Porto Alegre da época em que Bataclan (ou “Bataclã”, na versão agauchada pela mídia local) fez do burburinho das ruas o seu ganha-pão, muitos estão na memória da cidade.

Maria Chorona, a jornaleira que pronunciava o seu mantra lamurioso no Largo dos Medeiros: “Correeeeeeeio! Diaaaaaaário!”. Territorial, enxotava concorrentes e piás marotos que se divertiam em arremedá-la.

Homem dos Cachos, o ocultista de túnica branca, cabelo “comanche” e a inseparável mala com uma “janela” a exibir punhados de cédulas. Suas previsões faziam a alegria da imprensa.

Professor Brilhante, de boina e cavanhaque, a pincelar e vender seus quadros na rua Vigário José Inácio. Seu nome batizou oficialmente o largo de desenhistas e pintores em frente ao Shopping Rua da Praia.

Tom Mix, mandalete do Cine Apolo e que realizava suas fantasias de mocinho de bang-bang com o dedo indicador a desferir tiros imaginários em desafetos na Praça da Alfândega.

Marimbondo, o gringo alto que não poupava ninguém. Por qualquer cachê, topava os desafios mais estapafúrdios, como lamber o pescoço de um inocente casal que deixava o Cine Guarani.

Terezinha Morango, a torcedora que agitava o Beira-Rio e bares do Centro. Nem o Inter escapou: dizendo-se desprestigiada ao não receber uma ajuda financeira do clube, virou a casaca para o Grêmio.

Volnei Salles, o vendedor de loterias cujo bordão “Gurizada Medonha”, nas cercanias da rua Uruguai, rendeu o próprio apelido e se tornou uma expressão popular que perdura na boca do povo.

Arlindo Alfaiate, o enigmático senhor a desfilar como um dândi, de cartola e terno boquirrotos, mala de viagem e guarda-chuva. Tudo coberto por "anúncios" escritos à mão.

Manoel da Loteria, o ambulante falecido aos 71 anos, sem os braços, despertava o carinho e curiosidade dos porto-alegrenses, ao oferecer loterias e, principalmente, foi um tremendo exemplo de obstinação.

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* Marcello Campos: Formado em Jornalismo e Publicidade & Propaganda (ambas pela Pucrs) e Artes Plásticas (Ufrgs). Tem quatro livros já publicados. Há mais de uma década, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens porto-alegrenses.

(Do Jornal do Comércio, de 8.3. 2019)

P. S. Outra figura folclórica da Rua da Praia era Joel Granato Veiga, o Camelinho, um dos torcedores mais conhecidos da história do Grêmio, morreu em 10.08.2008, aos 78 anos, na Capital aos 78 anos, segundo o site oficial do Grêmio. 

Figura histórica da Rua da Praia, Camelinho nasceu em Bagé em 1930. Era morador de Porto Alegre desde que o Grêmio jogava no Estádio da Baixada. No centro da Capital, ficou conhecido pela sua defesa intransigente e alegre do Grêmio, o que o transformou em torcedor símbolo do tricolor.

Na foto acima feita em 12.02.1966, ele é o primeiro da fila da esquerda para a direita dos que estão em pé. Os demais são Cleo, Ortunho, Airton, Aureo, Altemir, Alberto. Agachados: Adroaldo Marques, João Severiano, Alcindo, Sérgio Lopes, Wolmir Massaroca e Ataídes Carvalho. No dia que foi feita esta foto, o Grêmio jogou em Santa Maria na inauguração do estádio do “colorado santamariense” − Internacional − que ao que parece até hoje não ficou pronto.

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