Uma fauna sortida
Marcello Campos*
No
álbum de tipos pitorescos que borboletearam pela Porto Alegre da época em que Bataclan (ou
“Bataclã”, na versão agauchada pela mídia local) fez do burburinho das ruas o
seu ganha-pão, muitos estão na memória da cidade.
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Maria
Chorona, a jornaleira que pronunciava o seu mantra lamurioso no Largo dos
Medeiros: “Correeeeeeeio! Diaaaaaaário!”. Territorial, enxotava concorrentes e
piás marotos que se divertiam em arremedá-la.
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Homem
dos Cachos, o ocultista de túnica branca, cabelo “comanche” e a inseparável
mala com uma “janela” a exibir punhados de cédulas. Suas previsões faziam a
alegria da imprensa.
Professor
Brilhante, de boina e cavanhaque, a pincelar e vender seus quadros na rua
Vigário José Inácio. Seu nome batizou oficialmente o largo de desenhistas e
pintores em frente ao Shopping Rua da Praia.
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Tom
Mix, mandalete do Cine Apolo e que realizava suas fantasias de mocinho de
bang-bang com o dedo indicador a desferir tiros imaginários em desafetos na
Praça da Alfândega.
Marimbondo,
o gringo alto que não poupava ninguém. Por qualquer “cachê”, topava
os desafios mais estapafúrdios, como lamber o pescoço de um inocente casal que
deixava o Cine Guarani.
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Terezinha
Morango, a torcedora que agitava o Beira-Rio e bares do Centro. Nem o Inter
escapou: dizendo-se desprestigiada ao não receber uma ajuda financeira do
clube, virou a casaca para o Grêmio.
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Volnei
Salles, o vendedor de loterias cujo bordão “Gurizada Medonha”, nas cercanias da
rua Uruguai, rendeu o próprio apelido e se tornou uma expressão popular que
perdura na boca do povo.
Arlindo
Alfaiate, o enigmático senhor a desfilar como um dândi, de cartola e terno
boquirrotos, mala de viagem e guarda-chuva. Tudo coberto por
"anúncios" escritos à mão.
Manoel da Loteria,
o ambulante falecido aos 71 anos, sem os braços, despertava o carinho e curiosidade
dos porto-alegrenses, ao oferecer loterias e, principalmente, foi um tremendo
exemplo de obstinação.
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Marcello Campos: Formado em Jornalismo e Publicidade & Propaganda (ambas
pela Pucrs) e Artes Plásticas (Ufrgs). Tem quatro livros já publicados. Há mais
de uma década, dedica-se ao resgate de fatos, lugares e personagens
porto-alegrenses.
(Do Jornal do Comércio, de 8.3. 2019)
P.
S. Outra figura folclórica da Rua da Praia era Joel Granato Veiga, o Camelinho,
um dos torcedores mais conhecidos da história do Grêmio, morreu em 10.08.2008,
aos 78 anos, na Capital aos 78 anos, segundo o site oficial do Grêmio.
Figura
histórica da Rua da Praia, Camelinho nasceu em Bagé em 1930. Era morador de
Porto Alegre desde que o Grêmio jogava no Estádio da Baixada. No centro da
Capital, ficou conhecido pela sua defesa intransigente e alegre do Grêmio, o
que o transformou em torcedor símbolo do tricolor.
Na
foto acima feita em 12.02.1966, ele é o primeiro da fila da esquerda para a
direita dos que estão em pé. Os demais são Cleo, Ortunho, Airton, Aureo,
Altemir, Alberto. Agachados: Adroaldo Marques, João Severiano, Alcindo, Sérgio
Lopes, Wolmir Massaroca e Ataídes Carvalho. No dia que foi feita esta foto, o
Grêmio jogou em Santa Maria na inauguração do estádio do “colorado
santamariense” − Internacional − que ao que parece até hoje não ficou pronto.
faltou o camelinho
ResponderExcluirO camelinho já está, agora, entre os tipos folclóricos da Rua da Praia...
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