Por Max Gehringer
1. O Chefe Evasivo
−
Chefe, o senhor tem um minuto?
−
Você é a...
− Glória.
−
Glória, certo. Só que agora não vai dar, estou ocupado.
−
Mas é rapidinho.
−
Fale ali com o César. Ele está a par de tudo.
−
Mas foi o César que pediu para eu vir falar com o senhor.
−
Foi, é? Então pede para o César vir aqui falar comigo.
A
Glória foi uma tremenda otimista ao achar que o chefe lhe daria alguma resposta
prática. Porque Chefe Evasivo não responde, não toma posições, não assume
compromissos, e não feedback. E,
muitas vezes, como no caso da Glória, sequer sabe o nome de seus subordinados. O
que está por trás da personalidade do Chefe Evasivo é uma enorme insegurança.
Por isso, o Chefe Evasivo tem um fiel escudeiro que responde no lugar dele,
normalmente alguém suficientemente esperto para não ter qualquer outra ambição
na carreira, a não ser a de proteger o chefe contra as investidas dos
subordinados.
Como lidar com ele?
Falando
direto com o César. O único problema é que o César não tem autoridade e
tampouco coragem para recomendar aumentos e promoções. Quem tem um Chefe
Evasivo precisa urgentemente mudar de área e a melhor maneira de fazer isso é
conversando diretamente como chefe da outra área. Se não mudar, vira subCésar. Ou
seja, condena-se ao anonimato eterno.
{Alguns evasivos memoráveis}
Pôncio
Pilatos → O mais famoso do clã. Sua atitude de lavar as mãos diante de Cristo
virou emblema dos chefes que não assumem responsabilidades.
D.
João VI → Evadiu-se quando Napoleão invadiu Portugal e tinha fama de submisso à
mulher, Carlota Joaquina. Sempre que possível, decidia não decidir.
Zagallo
→ Consta que a seleção do tri, em 1970, era comandada de dentro do campo por
Gérson e Carlos Alberto. O treinador tentava não atrapalhar.
2.
O Chefe Compulsivo
O
Chefe Compulsivo tem um problema de fuso horário. Ele quer tudo para ontem, e
riscou de seu calendário a palavra “amanhã”. E, já que amanhã não existe, não
haverá futuro. Logo, investir no desenvolvimento dos funcionários é perda de
tempo. O que move um Chefe Compulsivo é, ao contrário do que as aparências
indicam, a falta de iniciativa. Ele não pensa e, por isso, depende das ordens
de seu superior para poder liberar sua adrenalina.
É
fácil reconhecer o Chefe Compulsivo, até nas situações em que não se exige sua
extremada compulsão. Num inocente churrasco promovido pela empresa, por
exemplo, ele:
1) Se recusa a discutir política, religião, sexo ou
futebol.
2) Só fala de seu objetivo para ontem.
3) Fica ridículo de bermuda e chinelão.
Como lidar com ele?
Evitando
qualquer assunto que não seja a “ordem do dia”. No dia em que lhe for pedida
uma referência sobre algum funcionário, o Chefe Compulsivo sempre recomendará
não o mais criativo, nem o que apresenta melhores resultados, mas o que
compartilha de sua paranoia.
{O maior compulsivo de todos os tempos}
Tio
patinhas → O pato sovina e milionário das histórias em quadrinhos da Disney é o
símbolo dos chefes para os quais todo o trabalho se resume a uma única “ordem
do dia” − no caso, ganhar dinheiro.
3.
O Chefe Repulsivo
Para
ele, tudo é uma droga. O trabalho, o horário, a sua sala e, principalmente, os
seus funcionários. Um dia, o Chefe Repulsivo está deprimido e não quer falar
com ninguém. No outro, está irritado e desconta no primeiro que aparece. Ele dá
a impressão de estar sempre com o desodorante vencido e de não ter dormido bem
à noite. O Chefe Repulsivo não encara diretamente o funcionário e gosta de
fazer críticas genéricas (“Eu falo, falo, e ninguém me entende!”). Escondido
atrás da carranca está um frustrado que usa a autoridade como forma de
compensação. Sua lógica é simples: a vida não o tratou como ele merecia. Logo,
seus funcionários também precisam ser tratados como não merecem.
Como lidar com ele?
Elogiando-o,
principalmente quando não há motivo. O Chefe Repulsivo busca a aprovação alheia
e por isso preza o elogio, mesmo que vazio. O que, é claro, não bate com o
caráter dos funcionários autênticos e bem resolvidos. Funcionários de bem com a
vida são sempre suas vítimas preferenciais. Aí, não há o que discutir: o Chefe
Repulsivo não vai mudar. Portanto, quem tem que mudar é o funcionário. De
atitude, ou de empresa.
{O Rei dos Repulsivos}
Jânio
Quadros → O presidente que renunciou de forma intempestiva se encaixa no perfil
do chefe repulsivo: irascível, capaz de ir da depressão à agressividade num
piscar de olhos, no fundo é um carente.*
4. O Chefe Impulsivo
Ele
muda de ideia a cada cinco minutos. Desaprova o que tinha aprovado e contradiz
o que tinha dito, sem cerimônia. Embola o meio de campo e credita isso à
incompetência dos funcionários*. Consegue grandes sucessos e retumbantes
fracassos, mas jamais admite seus erros. Napoleão é seu santo padroeiro.
Como lidar com ele?
Preparando-se
com uma listinha de alternativas sempre que for conversar com ele, mesmo que a
solução seja óbvia. O risco maior que alguém corre ao discutir com o Chefe
Impulsivo é deixar todas as opções por conta dele, porque ele sempre escolherá
a mais complicada. Ao contrário dos outros chefes chatos, o Chefe Impulsivo
valoriza os funcionários capazes de pensar e ter ideais. Desde que eles deem a
impressão de que a ideia foi do Chefe Impulsivo.
{Mais impulsivo, impossível}
Napoleão
Bonaparte → Em sua política expansionista, que o levou a conquistar grande
parte da Europa, o francês era capaz de grandes acertos e de erros vexatórios −
como a desastrosa campanha da Rússia.
5.
O Chefe Repressivo
É alérgico
a ideias e sugestões. Tem mania de perseguição e vive enxergando conspirações.
Não elogia nem por decreto. Impõe regras e não quer ouvir falar em exceções. Impede
que seus funcionários tenham contatos fora do departamento. Tudo consequência
de algum trauma pessoal, coisa que o Chefe Repressivo resolveria com terapia.
Mas quem vai sugerir isso a ele?
Como lidar com ele?
Sendo
extremamente obediente. O Chefe Repressivo só valoriza quem lhe dedica
irrestrita fidelidade, mesmo quando suas ordens beiram o absurdo. O problema é
que gente assim pode ir longe: Mussolini, Stálin e Hitler* eram Chefes
Repressivos. E a lição ficou bem registrada: quem os contrariou não viveu para
contar a história.
{Três repressivos irreprimíveis}
Mao
Tse Tung → Presidente da China por décadas. Mao atingiu o auge como repressivo
durante a Revolução Cultural, no fim dos anos 60.
Átila,
O Huno → O último rei dos hunos (406-453) foi um grande líder guerreiro e uma
ameaça constante ao Império Romano.
Médici
→ O general Emílio Garrastazu Médici presidiu o Brasil de 1969 a 1974, período mais
repressivo da ditadura militar.
Do Almanaque Fantástico, o show da vida em revista,
novembro de 2007
*Há
um político brasileiro que, desgraçadamente, se tornou presidente, que também
se encaixa, e muito, em alguns desses perfis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário