Manoel da Loteria
(1948-2019)
Sem os dois braços, vendia bilhetes no centro de Porto
Alegre.
Foto Marcello
Campos-Arquivo pessoal
Porto Alegre perde um de seus mais queridos
personagens populares
30 de junho de 2019
Sorriso
tímido, olhar de menino, passinho apressado pela Rua da Praia, Ladeira, Andrade
Neves e imediações. Dinheiro trocado no bolso direito da camisa social sempre
impecável, comprovantes de apostas dobrados no lado do coração, com promessas
de fortuna em forma de papel.
Esta
imagem singela deixará saudade entre os porto-alegrenses, com a morte do
vendedor ambulante Manoel Vilson do Nascimento, 71 anos (completados no dia 4
de junho de 2019), o “Manoel da Loteria”, ocorrida por volta das 0h30min deste
domingo no Hospital Conceição.
Internado
no setor de emergência da instituição, de acordo com familiares ele não
resistiu a complicações de um quadro de insuficiência renal e infecção
pulmonar. O sepultamento foi realizado no final da manhã deste domingo, no
Cemitério da Santa Casa. “Foi tudo muito rápido, de surpresa”, contou o seu
afilhado William Oliveira.
Trajetória
Em
2017, durante rápida entrevista concedida ao repórter Marcello Campos, do
jornal “O Sul”, Manoel declarou sobre o seu tempo de
atividade: “Perdi as contas”. Testemunhos dão como certo, porém, a sua
onipresença nas ruas, avenidas e marquises do Centro Histórico pelo menos desde
o começo da década de 1970.
Morador
da Vila Farrapos, na Zona Norte, ele não deixou mulher, filhos ou patrimônio.
Esse pequeno-grande homem entregou à capital gaúcha, porém, um baita legado: o
exemplo de superação. As dezenas de depoimentos registrados por amigos e
conhecidos no Facebook ao longo do dia não poupavam elogios ao vendedor.
O
álbum de tipos folclóricos da cidade ganha mais uma figurinha carimbada. Manoel
da Loteria agora está na mesma galeria de tipos inesquecíveis como Bataclan,
Gurizada Medonha, Teresinha Morango, Arlindo Alfaiate, Homem dos Cachos,
Marimbondo, Maria Chorona, apenas para mencionar os mais conhecidos.
(O Sul)
(Do blog Porto 24 Alegre)
Foto e texto de
Fernando Albrecht
A vida é dura...
Manoel
Nascimento, 70 anos, nasceu assim em Cachoeira do Sul, sem os dois braços. Foi
com compreensíveis enormes dificuldades que aprendeu a gerenciar sua vida.
Ainda criança, veio para a cidade grande e, desde o início dos anos 1970,
passou a vender bilhetes da Loteria Federal e das Loterias da Caixa. Em um
bolso da camisa deixa os volantes e no outro dinheiro trocado. Os fregueses
tiram o que lhes interessa e fazem o troco.
...para quem é mole
Perguntado
como encarava a sofrida condição desde a nascença, Nascimento abre um sorriso
largo e diz “graças a Deus!”. E arremata: “Eu podia ter nascido cego”. Ora,
alguém que diz isso é um herói. Ele poderia sentar na calçada e chorar
maldizendo a própria sorte, mas não. Foi à luta e chega aos 70 anos com
clientela fiel. É um exemplo para quem tem dois braços, duas pernas e desiste
falando uma frase mortal, “não dá”.
(Do Jornal do Comércio, de 29.03.2019)
P.S.
Vi, muitas vezes, esse senhor vendendo bilhetes nos anos 70, no centro de Porto
Alegre. Realmente, a gente ficava impactado com a sua garra em vender um pequeno
papel para fazer um novo rico. Nunca fui de tentar a sorte, mas hoje, lendo a
sua história, me arrependo de nunca ter comprado um bilhete dele...
(NSM)
Eu tive o prazer de comprar...conheci e me inspiro na superação. Parei de reclamar a partir daquele dia.
ResponderExcluirO amigo teve mais sorte... eu podia não ter ficado rico, mas teria feito uma boa ação.
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