terça-feira, 9 de junho de 2020

Companheira de desgraça

Rolando Boldrin


O compadre Justino e sua mulher, a Zefa, são dois caboclos lá de São Joaquim da Barra, minha terra querida. São desses casais unidos que nem unha e carne. Mesmo em seu tempo de mocidade, o compadre Justinho nunca olhou pra outro rabo de saia. Sempre nutriu sentimento de veneração pela mulher. Num dia desses, eles desandaram a relembrar das dificuldades que passara na vida.

Justino − Ô, minha véia. Tava me alembrando quando a gente casô... Eu tinha muito dinheiro dos negócio... Tinha mais de mir cabeças de gado... Aí veio aquela peste. Ocê lembra? Morreu todo o gado e eu fiquei numa pindaíba de dá pena. E ocê ali junto, sempre do meu lado. Se alembra?

Zefa − Craro que alembro, uai, como é que eu podia esquecer?

Justino − Mas depois a dificuldade passô. A gente começô a prantá roça, eu fui arribando de novo. Cheguei a ter muita terra. Era légua de prantação a perdê de vista, né não, minha véia?

Zefa − Era mesmo, meu véio...

Justino − Mas depois veio a praga dos gafanhotos. Perdemos tudo. Fiquemo sem roça, sem terra, sem nada. E ocê aí, comigo, sempre junto...

Zefa − Sempre junto, meu véio...

Justino − E quando eu fiquei doente, então? Febre amarela, icterícia, bronquite braba... Até pneumonia eu tive. Fui internado, seis mês de hospitar. E ocê ali firme, nunca arredô pé...

Zefa − Nunca. Tava do seu lado no meio dessa desgraça toda...

Justino (num repente) − Ô, Zefa! Pensando bem... ocê dá um azar desgramado!


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