Notícia falsa aterroriza crianças há mais de 40 anos*
(Imagem da internet)
Bata
a porta do banheiro, dê descarga e abra a torneira. Faça isso três vezes. Quem
esteve em uma escola brasileira nas últimas quatro décadas (2008**) sabe:
surgirá uma loira, com algodão nas narinas e machado na mão. Sim, ela está
morta.
Mas,
afinal, de onde teria surgido essa mulher? A resposta é simples e direta: de
uma matéria de jornal. Ou melhor, da imaginação de jornalistas que criaram e
recriaram esta que possivelmente é das mais duradouras lendas urbanas.
A
manchete estampou a capa do extinto jornal Notícias
Populares em 1966: “Loira fantasma aparece em banheiro de escola”.
Acostumados a buscar notícias polêmicas, os repórteres do NP se depararam com uma tarde sem sangrias. Ninguém fora morto a
machadadas, nenhum bebê-diabo na maternidade. Mas havia uma foto borrada de uma
funcionária do jornal. Loira. Tiveram a ideia da manchete, recriando a história
inventada por Orlando Criscuolo para o Diário
da Noite, anos antes. O borrão
virou algodão, e a loira, defunta. A edição esgotou.
Mário
Luiz Serra, um dos “pais” da loira, conta que recebeu uma diretora do
conceituado Colégio Rio Branco, de São Paulo, afirmando ter tirado uma foto da
fantasma. Quando o filme foi revelado, não havia nada. “Se fosse gente, aparecia”,
assegurava a educadora.
A
pressão aumentou, inclusive da Secretaria de Educação da cidade: por medo, as
crianças não queriam mais ir ao banheiro. O jornal teve que publicar um
desmentido. Tarde demais. A loira continuou cercando as escolas. Até mesmo a
prima da tal funcionária que inspirou a manchete confessou: “Eu vi a loira do
banheiro”.
* Agora já são 52 anos...
**2008:
Ano da publicação do texto.
(Do “Almanaque de Cultura Popular”, da TAM, julho de
2008)
Imagem da internet
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