quarta-feira, 24 de junho de 2020

Como funciona o paraquedas?

Por Tiago Jokura


1. Num salto-padrão, o paraquedista deixa o avião quando ele atinge cerca de 12 mil pés de altitude, ou seja, 3 600 metros. Nas costas, o saltador carrega a mochila que guarda o paraquedas todo dobrado.

2. Quando a queda livre começa, o corpo do paraquedista vai aumentando progressivamente de velocidade até atingir cerca de 200 km/h. Até chegar a essa velocidade e se estabilizar, lá se vão 12 segundo de adrenalina.

3. Quando a altitude cai para 5 mil pés (1 500 metros), é hora de abrir o paraquedas, após 45 longos segundos de queda livre! Saltadores mais experientes ainda ganham alguns segundos extras ao acionar o equipamento a 3 mil pés do solo (900 metros).

4. O paraquedas tem várias “peças”. O slider serve para regular a velocidade de abertura do velame, evitando que o equipamento se enrole todo. O velame, por sua vez, é formado pelas células de náilon, que inflam para lhe dar o formato de uma asa. Com ele aberto, a velocidade do voo fica em cerda de 30 km/h.

5. Para “dirigir” o paraquedas, é preciso usar os batoques – ligados à cauda do velame por linhas direcionais. Quando o batoque esquerdo é puxado para baixo, o paraquedas vira para a esquerda. E vice-versa para o batoque direito.

6. Na hora de pousar, cerca de 5 a 7 minutos após a saída do avião, o ideal é pegar um “vento de nariz” (frontal) e puxar os dois batoques para baixo, simultaneamente. O movimento empina o velame e funciona com freio, permitindo uma aterrissagem suave.

Abre-te quedas!

A maior parte dos paraquedistas abre o equipamento manualmente – apesar de existir uma opção automática. Eles puxam da mochila um miniparaquedas chamado pilotinho. Ao ser solto, o pilotinho é inflado pelo ar e arrasta o paraquedas (velame) principal para fora da mochila.

Para a frente…

Mudando a posição do corpo, o paraquedista pode corrigir a direção e a velocidade da queda livre. Na posição front slide, feita com os braços encolhidos e as pernas esticadas, o vento empurra o corpo do paraquedista para a frente.

…ou para trás

Para se deslocar no sentido contrário, o paraquedista precisa esticar os braços e dobrar totalmente os joelhos. Isso faz com que o vento jogue seu corpo para trás. A posição é chamada de back slide.

Ou dobra ou nada!

Dobragem dos paraquedas é tão importante 
que tem até prazo de validade

→ Para o equipamento não falhar, uma dobragem bem feita dos velames é fundamental. O ideal é que ela ocorra em um ambiente coberto, evitando superfícies abrasivas como asfalto ou cimento que podem danificar o tecido.

→ Se os velames ficam na mochila muito tempo, fatores externos, como umidade acumulada, podem prejudicar a abertura. Por isso, a dobragem do reserva tem prazo de validade: após quatro meses, é obrigatório redrobá-lo.

→ Todo paraquedista certificado aprende a dobrar seu velame principal, mas, se quiser, pode pagar 7 reais* pelo serviço. A dobragem do reserva – mais minuciosa para garantir uma abertura rápida e sem falhas – custa dez vezes mais e só é feita por especialistas.

Mochila voadora Equipamento leva paraquedas principal e reserva, e pesa até 14 quilos

Um grude só

Além de abrigar os velames, a mochila tem tirantes (alças) para mantê-la firmemente grudada no tronco e nas pernas do paraquedista. Dependendo do tipo de salto e do nível de experiência da pessoa, o peso da mochila varai de 7 a 14 quilos.

Cabos da boa esperança

Existem cabos do lado de fora da mochila para acionar os dois velames. O cabeamento de aço flexível que aciona o reserva é protegido por um conduíte e coberto por abas de proteção. Isso evita que atritos (até do vento) acionem o equipamento acidentalmente.

Dois em um

Na mochila vão dois velames (paraquedas) guardados em bolsas. O principal fica na parte inferior. O reserva, alojado logo acima, fica bem mais compactado. Quando aberto, porém, ele tem o mesmo tamanho do paraquedas principal.

(Revista Super Interessante, julho de 2018)

*Valor de dobragem na época, julho de 2018, da reportagem.

Como sobreviver se o paraquedas não abrir?

Hipótese A − Salto em grupo − Chances remotas

1. Peça ajuda:

→ Se os paraquedas principal e reserva falharem, acene para um colega e aponte para seu paraquedas − sem demora, pois você já deve estar a menos de 750 metros do solo.

2. Segure firme:

→ Seu companheiro deve mergulhar na sua direção. Agarre-o fortemente. A essa altura, vocês estarão na velocidade máxima de queda livre - mais de 200 km/h.

3. Aguente o tranco:

→ Segurar não basta: o impacto da abertura desata qualquer abraço. Entrelace seus braços nos arreios do macacão do colega. O tranco deve quebrar seus braços.

4. Pouse como der:

→ Assim que seu colega abrir o paraquedas, ele deve conduzir a queda enquanto você se segura. Tentem desviar de obstáculos como construções e fiação elétrica. Como o peso é grande e a distância do chão, curta − cerca de 150 metros − uma aterrissagem suave está fora de cogitação. Se houver água por perto, pousem lá. Após o pouso, seu companheiro terá de evitar a inundação do pára-quedas. As conseqüências dessa operação vão de algumas fraturas à morte imediata dos dois saltadores.

Hipótese B - Você cai sozinho

Chances ridículas 1.

→ Procure um bom lugar para cair. Sem paraquedas, a chance de morrer é de aproximadamente 100%. Ainda assim, alguns terrenos podem − pelo menos em teoria − amortecer o impacto e, em casos extraordinários, evitar a morte. Exemplos: copas densas de árvores sobre um pântano, celeiros cheios de feno e encostas íngremes cobertas por neve fofa.

2. Vá a esse lugar:

→ Manobre seu corpo para o local de pouso. Para deslocamentos horizontais, adote a posição “tábua”, com o corpo todo esticado e a cabeça apontando a direção desejada. Inclinando-se a cabeça para baixo, o ângulo da queda se torna mais agudo; para uma descida totalmente vertical, posicione-se de ponta-cabeça.


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