segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O falcão e o rouxinol

 Uma fábula de Esopo*

O Falcão estava faminto. Passara o dia inteiro procurando comida, sem sucesso. Aproximava-se a noite, e ele precisava encontrar uma presa logo logo, senão dificilmente conseguiria dormir, de tanta fome.

Avistou um pássaro ao longe, à sua frente. Voando como uma flecha, cravou as garras no pescoço do Rouxinol, que não se apercebera do perigo chegando por trás.

Enquanto voava de volta a seu ninho, o Falcão ouviu o apelo desesperado do Rouxinol:

Enquanto voava de volta a seu ninho, o Falcão ouviu o apelo desesperado do Rouxinol:

− Por favor, poderoso Falcão. Eu sou um pobre Rouxinol. Sou pequeno demais para a sua fome. Por que você não me larga e vai procurar uma ave maior, que possa satisfazer seu magnífico estômago?

O Falcão prosseguiu em seu voo, sem responder ao Rouxinol.

− Além disso, eu canto muito bem. Se você me largar, posso cantar para você, enquanto buscamos um alimento melhor. Prometo que não vou fugir. Nem conseguiria, por causa de sua velocidade muito superior à minha.

E então o Falcão respondeu:

− Eu seria um tolo se o largasse agora, pequeno Rouxinol. Se possuo um alimento garantido entre minhas garras, por que iria procurar outro que ainda nem está à minha vista? Um pássaro pequeno que eu já tenha vale muito mais, para mim, do que um grande pássaro que ainda não capturei.

                                               Moral da história

 Mais vale o pouco que se tem do que o muito que se possa ter.

 *Tradução e adaptação: Sérgio Barcellos Ximenes.

                                        Uma versão resumida

O francês La Fontaine (1621−1695) recriou muitas das fábulas de Esopo (620 a.C. − 564 a.C.). A ideia era humanizar animais e, nos diálogos dos bichos, criar uma sabedoria moral para os humanos. Na fábula o falcão e o rouxinol, o pequeno pássaro foi agarrado pelo predador. Na tentativa desesperada de sobreviver, a ave suplica ao algoz que a liberte, pois poderia cantar ou falar do famoso rei Tereus da mitologia. O grande pássaro sorri e diz que um “estômago com fome não possui orelhas”. Moral? Diante das necessidades básicas, escasseia a chance de sensibilidade ou de disposição para ouvir músicas... ou argumentos.

                  (Da crônica “Ouvir com fome”, de Leandro Karnal,

jornal Zero Hora, agosto de 2020)

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