Voltaire Schilling*
(...)
No grande salão da cervejaria Höfbrauhaus, no dia 20 de fevereiro de 1920, um desconhecido estava na entrada como cicerone da reunião. Ex-veterano de guerra condecorado e informante do exército, o artista sem sucesso Adolf Hitler preparava-se para expor aos presentes − ex-combatentes, trabalhadores, lojistas e tuti quanti − os 25 pontos do recém fundado NSDAP Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei (NSDAP), Partido Nazista.
Sua aparência era comuníssima, com exceção dos olhos azuis imantados e do dom da oratória. Talento que ele mesmo desconhecia ainda que tivesse 30 anos. A pequena agremiação apresentava-se como unificadora da Alemanha exausta, anticomunista, antidemocrática, antiliberal, totalmente hostil ao Tratado de Versalhes e ferozmente antissemita. O público ficou atônito e extasiado com a verve do pequeno homem. Ali nascia o fascismo germânico. Não cessa de nos impressionar, um século depois, o fato de que um punhado de tipos direitistas estranhos, senão que bizarros, absolutamente banais, sem nenhuma qualificação maior, 13 anos depois chegaria ao poder para desgraça da Alemanha e infelicidade da Europa.
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