sábado, 22 de agosto de 2020

O Divino Operário

 

Nunca nos esqueçamos de que Jesus foi operário e filho de operário; não olvidemos, também, que nasceu pobre entre pessoas que ganhavam a vida com o próprio trabalho e que ele mesmo, antes de anunciar a boa-nova, granjeava com o seu suor o pão de cada dia. Aquelas mãos que abençoaram os simples, curaram os leprosos, iluminaram os cegos, ressuscitaram os mortos, mãos que deviam, mais tarde, ser trespassadas pelos cravos no madeiro, experimentaram, também, calos, fadigas e cãibras; eram mãos que sabiam manejar instrumentos de trabalho e meter pregos na madeira; mãos de operário.

A profissão de Jesus é antiga e sagrada. A do camponês, a do ferreiro, a do pedreiro e do carpinteiro são profissões mais úteis à vida humana, mais inocentes e mais religiosas; enquanto o soldado degenera em ladrão, o marinheiro em pirata, o mercador em aventureiro, aqueles não traem nem se corrompem. Trabalham em mais simples matérias-primas e transformam-nas, aos olhos de toda gente, em obras benéficas, sólidas e concretas. O camponês rasga a terra e dela tira o pão que vai nutrir o justo e o criminoso; o pedreiro aparelha a pedra e constrói a casa do pobre, do rei e de Deus; o ferreiro forja o ferro para a espada, para o arado ou para o martelo; o carpinteiro serra e une as tábuas que serão a porta que protege a casa ou o leito onde morrerão o inocente e o culpado.

Estes objetos vulgares e ordinários, tão vulgares e ordinários que nem mais enxergamos, porque nossos olhos estão quase sempre postos em mais vistosas produções, são as mais simples e, ao mesmo tempo, as mais necessárias criações do homem.

          Do livro “lendas do Céu e da Terra”, de Malba Tahan


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