quarta-feira, 26 de agosto de 2020

A forma e o conteúdo

O poema seguinte, “A taça”, é de Hermes Fontes e foi publicado em seu livro Apoteose, de 1908:

A taça

Pouco acima daquela alvíssima coluna

que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal

que, vendo-a, ou, vendo-a, sem, na realidade, a ver,

de espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna

de beijos – uns, sutis, em diáfano cristal

lapidados na oficina do meu Ser;

outros – hóstias ideais dos meus anseios,

e todos cheios, todos cheios

do meu infinito amor...

Taça

que encerra

por

suma graça

tudo que a terra

de bom

produz!

Boca!

o dom

possuis

de pores

a minha boca!

taça

de astros e flores,

na qual

esvoaça

meu ideal!

Taça cuja embriaguez

na via-láctea do sonho ao céu conduz!

Que me enlouqueças mais... e, a mais e mais, me dês

o teu delírio... a tua chama... a tua luz...

 

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