Vera Clotilde Garcia Carneiro
O relógio despertara. Seis horas.
Paulinho chorando.
Levanto às pressas, chamo os dois
mais velhos para o colégio. Corro para a cozinha, e enquanto esquento a
mamadeira do Paulinho, chamo a empregada que dorme. Ligo o ferro para passar
uma camisa para o Paulo que acabou de me dizer que precisava sair com a camisa
social branca de listrinhas.
Paulinho continua chorando. A
mamadeira aqueceu demais. Tem que esfriar.
Naná acordou. Quer os chinelos para ir ao
banheiro fazer xixi. Grito para o Paulo atendê-la. Ele está tomando banho. Não
ouve.
Maria levantou-se. Está aprontando o
café. Deus conserve Maria.
Os dois maiores estão atrasados. A
Kombi buzina. Dou-lhes um beijo apressado, alcanço a merenda pronta de véspera
e corro para o faminto Paulinho.
Naná chora. Fez xixi na cama porque
não achou os chinelos.
Dou a mamadeira para o Paulinho.
Dou os chinelos para Naná.
Dou a camisa para Paulo.
Eu, por minha vez, ganho um beijo
apressado. Ele não vem almoçar.
Banho em Naná, banho em Paulinho.
Visto-os.
Entrego a casa virada para Maria e
corro com dois ao supermercado, lavanderia, sapateiro e farmácia.
Às dez horas paro na pracinha. Os
dois precisam de sol.
Às onze, de novo
Estico as pernas no sofá. A Kombi
buzina.
Chegaram os colegiais. Novidades.
Almoçamos. Ajudo-os nos temas. Aparto as brigas e acho as chuteiras. Hora do
futebol.
Paulinho chorando. Fome.
Lembro-me que preciso ir ao
laboratório hoje, sem falta.
Após as papinhas e fraldas da tarde,
deixo-os com Maria e rumo ao laboratório. Ainda bem que tudo é perto e não
preciso usar ônibus muito seguido.
Ao voltar, começo a catar peças de
uniforme dos jogadores na porta. Alcanço as toalhas para os dois que estão no
banho.
Já é noite, Paulinho chora de fome. Naná
cabeceia de sono e Maria queimou o feijão do meio-dia.
Paulo chega cansado. Pergunta pelo
resultado do exame.
Eu estou entre o choro e o riso.
O novo nenê chega em dezembro.
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