segunda-feira, 26 de outubro de 2020

O Caboclo

 

Vês aquele homem modesto,

de roupas simples, sisudo,

que ali vai ao trote lesto

do cavalinho peludo,

                                                e segue, singelo e só,

movendo a fronte bronzeada

sob o sol, por entre o pó,

no leito longo da estrada?

 - É o sertanejo, o nativo...

Não sorrias dele, não.

É singelo, mas altivo.

É homem forte do sertão.

                                               Cerne soberbo da raça

é herói rijo e sem medo,

que afronta o tigre e devassa

da brenha imensa o segredo.

 Foi ele que, no passado,

com ímpio varonil,

alargou esse abençoado

horizonte do Brasil.

                                                Cruzou das grotas sombrias,

às montanhas de altos topes.

E ora foi Fernão Dias,

ora foi um Guia Lopes.

 Olha-o, pois, envaidecido,

é o leão valente da selva,

que tem alerta o sentido

pela defesa da Terra.

                                             Que importa o chapéu de palha,

o trajo, o rude perfil?

Ele é homem que trabalha,

ele filho do Brasil.

         Serafim França, in “Antologia Luso-Brasileira”, pág. 211


Nenhum comentário:

Postar um comentário