quinta-feira, 15 de outubro de 2020

A Lei de Deus

 

O Senhor Prado levantou os olhos do livro que estava lendo.

– Que deseja de mim? – perguntou.

– Desejo trabalhar – foi a pronta resposta de Júlio Souza.

– Trabalhar? E como soube que tenho trabalho?

 – Li seu anúncio no jornal.

– Ah! Leu no jornal? Pois bem, preenche você as condições exigidas no anúncio?

– Não sei, Senhor Prado. Mas pensei que talvez pudesse experimentar e ver. 

– Bem. Então vejamos. Que você pode fazer?

Júlio hesitou um minuto. Sabia fazer muitas coisas boas, mas não sabia como dizê-las em uma resposta breve. Respondeu afinal:

– Faço tudo que me ordenar.

– De fato? Se você estiver inteiramente certo do que diz, é na verdade um rapaz bastante útil.

– Bem, eu queria dizer – falou Júlio corando – que posso tentar fazer tudo. Suponho que um cavalheiro não me ordenará coisas que não devo fazer.

– Mas imaginemos que eu o empregasse e no dia seguinte o mandasse ao meu armazém, e tivesse de subir vinte e cinco vezes a ladeira que fica defronte à porta de trás. E então?

 – Ora, – disse Júlio sorrindo – tenho certeza de que poderia fazer isso e que o faria o mais depressa possível.

 – Bem, suponhamos ainda que eu o mandasse ao armazém vizinho, a fim de esperar uma boa oportunidade para tirar o melhor bacalhau dos que estão expostos e correr para me entregar. E então?

– Isso eu não poderia fazer, senhor – disse Júlio.

– Por que não? Não disse você que faria tudo o que lhe ordenassem?

– Sim, mas tenho algumas ordens que estão acima de tudo. “Não furtarás” diz uma delas. E eu preciso cumpri-la.

– Ah! Então minhas ordens ficariam abaixo dessas?

– Sim, Senhor Prado. Sempre!

E a voz de Júlio era mais firme do que nunca. Começou a pensar que estava diante de um homem desonesto e que seria até bom que não o empregasse. Mas justamente nesse momento o Senhor Prado lhe estendeu a mão:

– Deixe-me apertar-lhe a mão, meu jovem. Quero experimentá-lo por algum tempo para ver se é verdade o que diz. Preciso de um empregado que ponha as leis de Deus em primeiro plano e as minhas em segundo.

                                          (Autor desconhecido)

 

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