sexta-feira, 25 de março de 2022

Composta para peça, canção “Horizontes”

 Virou hino afetivo de Porto Alegre 

Marcelo Perrone

Elenco original de “Bailei na Curva”: 

Hermes Mancilha, Claudia Accurso, Cláudio Cruz, Márcia do Canto, Júlio Conte, Regina Goulart, Flávio Bicca Rocha e Lúcia Serpa 

Horizontes entra na última cena de Bailei na Curva, cantada pelo elenco, e a melodia segue nas vozes e assobios do público entre os aplausos ao fim do espetáculo. Tem sido assim desde 1983 com a canção composta por Flávio Bicca Rocha para a peça, como síntese existencial da geração que cresceu à sombra da ditadura militar, mas que ganhou vida própria como um hino afetivo de Porto Alegre. 

− Escrevi Horizontes durante os ensaios da peça − diz Bicca. − Em setembro de 1983, um mês antes da estreia, apresentei ela no festival de música da Faculdade de Arquitetura da UFRGS, evento que era muito importante e contava com participantes de todo o Brasil. Horizontes ganhou o prêmio do júri popular e ficou em terceiro na votação do júri oficial. Quando a peça estreou, a música já era conhecida. 

Em 1984, Horizontes ganhou na voz de Elaine Geissler a versão que se tornou um grande hit local. 

− Ela gravou num disco do projeto Unimúsica, e aí começou a tocar muito nas rádios − lembra Bicca. 

Desde então, Horizontes já teve diferentes versões, sendo que uma outra que ficou conhecida tem as vozes de Victor Hugo e Ângela Jobim, dos anos 1990. Bicca diz que, apesar do sucesso, a canção que segue presente no repertório de grupos vocais, músicos da noite, festivais e campanhas publicitárias pouco lhe rende em direitos autorais: 

− Caetano e Chico Buarque têm 80, cem músicas de sucesso cada um, e eu tenho essa. Não é sempre que se acerta, mas uma eu acertei − brinca Bicca. 

Nestes 30 anos em que sua música segue viva, Bicca diz ter ficado com uma mágoa:

− Nunca me convidaram para fazer a trilha sonora de peça alguma. Nas que fiz, também estava envolvido na produção, com meus amigos Rogério Beretta, em Adão e Eu, e Márcia do Canto, em Comédia dos Amantes.

Horizontes

Flávio Bicca Rocha 

Há muito tempo que ando
Nas ruas de um porto não muito alegre

E que, no entanto, me traz encantos
E um pôr de sol me traduz em versos.

De seguir livre, muitos caminhos,
Arando terras, provando vinhos.
De ter ideias de liberdade,
De ver amor em todas idades.
 

Nasci chorando, Moinhos de Vento,
Subir no bonde, descer correndo,
A boa funda de goiabeira,
Jogar bolita, pular fogueira.

Sessenta e quatro, sessenta e seis,
Sessenta e oito, um mau tempo talvez.
Anos setenta, não deu pra ti,
E, nos oitenta,

Eu não vou me perder por aí. 

(De GZH)

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