segunda-feira, 21 de março de 2022

Triste Berrante

 Adauto Santos*

Já vai bem longe esse tempo bem sei.
Tão longe que até penso que eu sonhei.
Que lindo quando a gente ouvia distante,
O som daquele triste berrante
E um boiadeiro a gritar: Eiá!
E eu ficava ali na beira da estrada,
Vendo caminhar a boiada
Até o último boi passar.
 

Ali passava boi, passava boiada,
Tinha uma palmeira
Na beira da estrada,
Onde foi cravado* muito coração. (bis)

Mas sempre foi assim
E sempre será.
O novo vem e o velho tem que parar.
O progresso cobriu a poeira da estrada,
E esse tudo que é o meu nada
Hoje tenho que acatar
E chorar...
Mas mesmo vendo gente, carros passando,
Meus olhos estão enxergando
Uma boiada passar.
 

Ali passava boi, passava boiada,
Tinha uma palmeira
Na beira da estrada,
Onde foi cravado muito coração. (bis)

* O compositor canta "cravado", mas alguns cantores cantam "gravado"

Adauto Antônio dos Santos (Bernardino de Campos, SP, 22 de abril de 1940 − São Paulo, SP, 22 de fevereiro de 1999, mais conhecido como Adauto Santos, foi um cantor, compositor, violonista e violeiro brasileiro.

Adauto Santos é um dos nomes mais importantes da música caipira contemporânea. Ao lado de Renato Andrade, Zé Mulato e Cassiano, Almir Sater, Roberto Correa e vários outros, Adauto foi uma importante resistência da autêntica música caipira frente à sua degeneração, representada pela música brega-sertaneja. 

Ele nasceu em 1940, no interior de São Paulo, mas ainda cedo se mudou para Londrina, no Paraná, onde cresceu. Foi lá que começou a carreira musical, com o Duo Havaí, formado por ele e sua irmã. O Duo já começou botando para quebrar, e venceu o Festival Roda de Violeiros, do lendário Capitão Furtado, realizado em Londrina.

Em 1962, Adauto foi para São Paulo, e começou a cantar na noite paulistana. Durante muitos anos, ele se apresentou no famoso Bar Jogral. Duas coisas chamavam a atenção nas apresentações de Adauto: sua linda e afinadíssima voz e a viola caipira. Ele misturava coisas contemporâneas da MPB com as levadas e o repertório da viola, com grande talento, a ponto de começar a ganhar prestígio e espaço em rádios, televisões e jornais. E numa dessas, ele foi parar no Programa Som Brasil, apresentado por Rolando Boldrin, e isso abriu para ele muitas portas. 

Uma de suas composições, Triste Berrante, foi incluída na novela Pantanal, da Rede Manchete. 

*Adauto Santos faleceu em 1999, deixando uma obra de inestimável valor. 

 P.S. Escute essa bela música na voz de Solange Maria e o autor, ou a gravação do padre Fábio de Melo, elas estão na internet.

Um comentário:

  1. Duas referências inesquecíveis: Adauto Santos, que jamais foi valorizado como merecia e o Jogral onde brilhava o paranaense Luiz Carlos Paraná, de Ribeirão Claro, autor de “De Amor ou Paz”, “Maria, Carnaval e Cinzas” e "Cafezal em flor". Bem lembrado. Valeu!

    ResponderExcluir