Vinicius de Moraes
Eu
sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.
Eu
abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.
Só
não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa…)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.
Eu sou muito inteligente!
Eu
fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!
Rio de Janeiro, 1970
A criatividade do autor pode expressar sentimentos até mesmo em seres inanimados que vão ganhando vida e mobilidade no decorrer do texto. Um exemplo disso é o poema acima de Vinicius de Moraes, “A Porta”, em que o personagem lírico é uma porta e ela retrata seus sentimentos acerca das situações cotidianas.
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