Criador do uniforme da seleção não torce para o Brasil
“Vi um povo de cabeça baixa, de
lágrimas nos olhos, sem fala, abandonar o estádio como se voltasse do enterro
de um pai muito amado. Vi um povo derrotado, e mais que derrotado, sem esperança.
Aquilo me doeu no coração.” O relato é do escritor José Lins do Rego, no dia
seguinte à derrota do escrete brasileiro na Copa de 1950.
A notícia chegou ao gaúcho Aldyr
Schlee durante uma seção de cinema no Uruguai: “Atenção: o Cine Rio Branco tem
o prazer de informar que os uruguaios são os campeões do mundo”. Aldyr morava
em Jaguarão, na fronteira com o país vizinho, que sempre visitava. A derrota
que deixou o Brasil em luto teve uma importância inimaginada em sua vida.
Em 1953, aos 18 anos, vence concurso
promovido pelo jornal Correio da Manhã e pela Confederação Brasileira de
Desportos para desenhar um novo uniforme para a seleção. Via-se no que era
usado até então, azul e branco, uma falta de simbolismo moral e psicológico.
Havia apenas uma regra para
participar: o uniforme devia ter as quatro cores da bandeira nacional. Aldyr
resolveu o quebra-cabeça: tascou amarelo e verde na camisa; branco e azul no
calção. Ganhou de outros 201 concorrentes.
Em sua carreira, a criação do
uniforme canarinho foi quase acidental. Depois disso, escreveu reportagens,
romances e contos premiados. Ao longo dos anos, viu a camisa ser maltratada por
muitos patrocinadores, até se aproximar do design original na Copa de 2006.
Engana-se quem pensa que ele é um torcedor fanático da seleção. Seu time é
justamente o dos nossos carrascos de 1950: o Uruguai.
Futebol - O Brasil em
campo, de Alex Bellos (Jorge Zahar, 2003).
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